terça-feira, 4 de agosto de 2020

Diário de Sentimentos #1: Desamparado




Tive essa ideia de escrever todo dia aqui sobre algo que tenho sentido até o mês que vem. Vamos lá?

Sinto como se não fosse adiantar. É aquela sensação de se ver impossibilitado, entende? Vou explicar como aconteceu:
Estava lá eu de bobeira pela praça quando numa roda de outros amigos meus estava ela lá, falando de si, de suas urgências, desejos, mudanças... E eu gostei. Ela adora dizer que é comunista e eu também, vou fazer o quê?! É o que tenho feito por todos esses anos, toda noite ando na praça, vejo as praças dos outros e lá está alguém que eu gostaria muito de amar, não me perder de amor, sabe?? É mais um amor besta, fraco, quentinho. Obviamente pensei na gente junto, passeios na praia, cerveja gelada, todo o clichê. E aí veio. Eu tava botando meu amor para ninar, me sentindo muito bem com aquilo tudo. Olhei no espelho e quando me vi foi como se tivessem me explicado o como 2+2=4. Eu sou o problema. Muito antes de mim já me fizeram o problema. Não terei nada que quero pois o que eu sou é errado. O que eu sou. E é verdade mesmo. Eu sou o que tem de errado. Quer me convencer que não, filho da puta?! Tenta!! Prova que não sou o que me impede de fazer o que quero, de ter o que quero ter, de viver o que eu quero viver, de ser feliz. "Ah mas o mundo é assim errado mesmo o importante é você..." Não importa! Porque o mundo me fez ser o problema. Ele ganha. Eu perco. Simples assim. Nós dois sabemos disso. "Mas você sabe o Átila..." Foda-se o Átila. Ele tá certo, mas foda-se do mesmo jeito. Porque quem tem de lidar com a dor de olhar tudo que eu quero ir embora antes mesmo de ficar por eu ser quem sou, sou eu. Quem tem de olhar pra toda uma vida e lembrar exatamente de todos os momentos que matei todas as oportunidades que eu tive de ser feliz hoje sou eu. O que é que você sabe?? Cê acha que me entende?? Você não entende nada. Se você não cala a boca e chora, você não entende nada. Você me conhece há anos e nunca nem me viu de verdade, vai achar agora que sabe de alguma coisa?! Enquanto você não puder fazer nada além de calar a porra da boca e chorar,

você nunca vai saber como me sinto.

@koiparadox

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Como me sinto sobre você:



Tenho quase certeza que te amo -- mas não desse jeito, calma lá.
Não é um "eu te amo", mas ao mesmo tempo é muito maior que um "eu gosto de você". Acho que "eu me importo com você" é mais apropriado que qualquer coisa. Eu te respeito e te admiro, e também estou sempre muito interessado em saber das coisas que você faz. Constantemente me pego pensando sobre o que você tá comendo, cozinhando, fazendo, quais coisas você comprou e se gostou delas, "o que você tá pensando?", "posso te ajudar?"
Eu amo passar tempo com você, ter nossos encontros, pilotar você por ai e ainda mais de pegar carona -- cê sabe que eu odeio dirigir. Eu quero muito te beijar e te fazer gozar, mas porra, é tão legal falar com você, conversar e ouvir sobre o seu dia que se eu soubesse que você diria sim pra qualquer coisa que eu falasse, só pensaria em perguntar:
vamo passear?

segunda-feira, 30 de março de 2020

Orobitchstopboros




Eu tava com saudade de ler a sua vida.

Eu tava com saudade de escrever dela também. Fiquei com saudade de muita coisa. Será se ela tá bem lá? Foda-se. Por que eu ainda me importo? O que esse corpo morto tá fazendo aqui??
O Sol tá lascando forte no cerrado da minha vida
secando e rachando minha nostalgia carcomida
sempre no outono é importante
perceber que vem da gente
o que nos deixa impotente
e o pensamento deviante
O vento frio sempre corta a minha paz, e a minha cabeça tá numa eterna nostalgia, e por mais que nós gostemos de magia, nós jogamos e eu to jogando com a palavra que me traz um pouco do que eu tinha lá atrás, antes da tosse que chegou em mim do oeste, e agora eu e eu mesmo tamo vendo quem dos dois a gente mata nesse duelo faroeste. Francamente, acho que pra mim tanto faz. Tudo que eu sei é que minha mente tá por um triz, me vejo preso numa espécie de matriz, repetindo os meus ciclos e impedido de aceitar a ideia de que eu também posso ser feliz.
deixar a ferida virar cicatriz.
riz.

FALOU!

domingo, 26 de maio de 2019

Rata



Não dá pra mudar ontem. Não dá pra planejar amanhã. Posso sair desse prédio e tomar um tiro na cabeça. A vida tá aqui. É isso. Não importa como seja, é tudo que a gente tem, né? Sem se arrepender. Até disso? Especialmente isso. Não matei uma puta. Libertei minha mãe. Dei um pouco de paz pra ela. Tirei o barulho. É um jeito de se ver. É o único jeito, Ezekiel. Se eu vejo isso como um vacilo. Algo horrível. Perco minha verdade. Tenho que acreditar que toda essa merda era pra acontecer. Então a gente nunca erra? É claro que a gente erra. Errar é mais importante que acertar. Mas eles ainda têm que acontecer. Tudo isso guia a gente pro próximo acerto. Não sei, cara. Quê? Cê achou que cê devia terminar a facul? Conseguir um emprego importante? Um casarão lá em Marin? Por mais fodido que tenha sido, atirar naquele policial... Aquela era a sua verdade.Tinha que acontecer. Te trouxe pra isso. Toda essa outra merda. Não é real. Nem é uma memória. Isso é só barulho, cara.

Kurt Sutter e Andrea Ciannavei

domingo, 30 de dezembro de 2018

Novas dimensões de solidão.




Eu to perdido e ninguém vai me salvar eu peço pra me salvarem mas ninguém vem me salvar eu vou me salvar mas eu não quero eu só quero ajuda mas ninguém vem me ajudar então eu me ajudo só e me salvo só mas não queria me salvar  

eu só queria ser salvo.

Eu to perdido e to bem e eu to tão melhor do que já estive mas ainda assim

argh que preguiça.

Aceitar as coisas que não posso mudar e me empenhar nas que posso melhorar. Um dia de cada vez, sozinho sempre e surpreendentemente feliz com tudo isso.

Okay!

sábado, 23 de dezembro de 2017

Restauração




Eu tomei um baque.


E o pior é que esse baque tem me atingido ao longo do ano inteiro. Eu sei porque to apanhando. E sei que provavelmente ainda vou apanhar um pouco mais. E agora também dói mais, pois agora sei que entreguei a chibata, as costas e o amor a quem me bateu por tanto tempo. a chibata nem chego a sentir mais. O que dói é saber disso tudo. Que me fiz refém.

Só dói porque eu sei.

E o baque não é do chicote, pois dele fui feito livre. O baque é meu próprio amor, em culpa, me batendo no peito, acelerando meu coração, o próprio coração, me tirando o ar do peito e a força dos braços, como se me baqueasse só para atrair minha atenção, olhar bem nos meus olhos, como só quem ama de verdade olha, e dizendo sem dizer como eu o desapontei. E dizendo sem dizer, Olha quem você foi antes de se fazer refém e olha quem você foi quando feito livre; Olha quem te deu sua liberdade, como só a deu pois lhe prender não era mais prazer; Já caçara outra coisa pra fazer. E dizendo sem dizer, meu próprio amor, agora em perdão, diz, Olha quem você foi ao ser feito livre, mas não livre como morcego fora do inferno, livre como carcaça que de nada mais serve a quem te comeu e olha quem você é, agora não inteiro, mas mais carne do que já foi um dia; Olha como voltou dos mortos livre, e agora livre como se deve ser, livre porque se fez livre, não por ter-se feito livre, livrado, jogado fora; Olha sua vida, olha nos olhos da sua família e percebe que quem te olha como eles olham, como eu te olho, tem por você o verdadeiro amor; Pois o amor vem de várias formas, e nem todas são benéficas, o amor nasce, vive, adoece e morre; O morto não machuca o vivo, e seu amor por quem te bateu morreu; Quem te machuca sou eu, seu próprio amor, em culpa, pois o amor nasce e vive, e quem vive sente, e eu, seu próprio amor sente raiva,

Eu sinto raiva,

sinto  raiva por não ter feito nada por ti quando precisavas de mim, por você não ter feito nada por ti quando precisavas; Me transformo em perdão, pois sei que não o fez por mal e que no final das contas tá tudo bem, e fico feliz por você saber disso; Você sabe; Eu só não sou perdão o bastante para que você finalmente possa se perdoar.

Mas somos perdão o suficiente para que eu possa melhorar.

E nisso nos tornamos perdão o bastante para voar. Voei o que pude voar e quando puder eu voo mais. E então pra cá não vou mais voltar.

FALOU!

domingo, 23 de abril de 2017

Capítulos




   Hoje terminei meu sketchbook atual e isso merece um texto.
   Esse sketchbook eu peguei em algum momento em setembro. Foram ai sete meses, mais ou menos, interagindo com esse caderno quase todos os dias. Sete meses muito importantes pra mim. Num período muito importante também, já que setembro e abril sempre serão meses importantes pra minha vida inteira.
   ESSE SKETCHBOOK ME ACOMPANHOU POR TODO TIPO DE BOSTA!!
  
   Mas agora ele acabou.
   É importante entender os capítulos pelos quais passamos na nossa vida, quando o clímax chega, quando trocamos de livro. Como toda história, nem sempre nós, tão no centro das nossas, conseguimos compreender quando o capítulo passou, quando o livro trocou, ou quando a história já é outra.
   Tudo que sei agora eu coloquei nesse sketchbook, tudo que realmente conheço de desenho, de criatividade, de lidar com o que vivo. Tudo tá lá. Mas algumas histórias minhas acabaram antes dele acabar, então por mais que eu queira viver outra coisa e por mais que eu seja outro personagem nessa nova história, eu sou sempre bombardeado por aqueles personagens que eu costumava ter e ser. E meu sketchbook, instrumento mais valioso pra coisa que eu mais me dedico hoje -- em escala diária, atualmente --, se tornou uma chaga que sempre me lembrava quem eu era, com quem e aonde eu estava. Me fazendo ser, na minha história atual, algo que nem nessa história deveria estar. O que me fez correr com muito foco e paciência para terminá-lo do jeito justo.
   Justo pra mim, obviamente.   Acho que a lição que eu tomei pra mim disso -- e a que quero falar agora sobre -- é ter a liberdade de não ter mágoas do passado, de entender os acertos e erros e o que foi, pois não dá pra mudar mais. E que talvez não seja certo esquecer tudo isso pra lidar com a história que se vive hoje. Aceitar que as coisas e as pessoas já se foram é algo crucial para aproveitar o que se tem e com quem se está, e os encontros devem ser celebrados, para que não se tenha rancor das coisas quando elas acabarem. E elas vão acabar.
   E no final das contas isso é que é felcida--
   kkk brinks.
   Isso não traz felicidade, mas pode dar paz. O que é, no mínimo, tão bom quanto.

FALOU!

segunda-feira, 13 de março de 2017

Ainda não me acostumei




Não é como se as coisas tivessem mudado. O mundo ainda gira, as pessoas ainda levam suas vidas. Exatamente como costumava ser. Minha rotina não mudou. Eu ainda tenho coisas pra fazer, uma vida pra viver. Um monte de filme pra ver. Mas ainda assim tudo parece fora do lugar. Falta. Passa. Ainda assim.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Review e Análise de Black Mirror s01e01

Essa moto é muito Black Mirror.



Então, eu fiz o maior esforço pra escrever isso para uma matéria da faculdade ai eu gostei e pô resolvi colocar aqui pq né. Esse texto que se segue aqui está dividido em 1 - Sinopse do episódio s01e01 de Black Mirror 2 - uma análise da tecnologia e comunicação relatada no episódio 3 - propósitos artísticos de um personagem e 4 - propósitos psicológicos de um personagem. Outra coisa importante: eu não revisei o texto nem pra mandar pra professora da matéria então prfvr não exijam tratamento especial ok?? Beijos <3 br="">



Black Mirror é uma série britânica de televisão criada por Charlie Brooker que, através de uma sequência antológica, ou seja, não sequencial, extrapola as possíveis futuras consequências que o uso atual da tecnologia trará para a sociedade.¹

Sinopse do Episódio
O primeiro episódio da série relata a uma situação fictícia onde, no meio da madrugada, o Primeiro Ministro da Inglaterra é convocado por questões de segurança da princesa mais popular da Coroa. Em seu gabinete, o Primeiro Ministro descobre, através de um vídeo protagonizado pela princesa, que ela foi sequestrada por um anônimo. Ele promete o retorno da princesa sob uma condição: a de que o primeiro ministro faça sexo com um porco ao vivo, em todas as emissoras britânicas, ao final da tarde. Como estratégia de contenção da informação, o Primeiro Ministro ordena o máximo de sigilo, e descobre que a fonte do vídeo é o Youtube, e que cerca de cinquenta mil pessoas foram expostas à informação antes mesmo do amanhecer.
Em seguida observamos algumas reações civis, desacreditadas, e do editorial de uma emissora de televisão discutindo se devem desobedecer o pedido estatal de não cobrir a notícia, onde uma jornalista expõe a demanda das pessoas na internet por uma confirmação das informações que estão circulando na web. E então, ao perceberem que uma série de emissoras (não necessariamente britânicas) já começaram suas respectivas coberturas sobre o ocorrido, começam a se esquematizar para cobrir o sequestro da princesa. Deste ponto partimos para os assessores do Primeiro Ministro percebendo que não possuem mais nenhum tipo de vantagem ou recurso midiático, e decidem tomar medidas para proteger tanto os interesses da princesa, da população e do Primeiro Ministro, arquitetando um plano de, através do CGI, transmitir um ator pornô transando com o porco e se passando pelo Primeiro Ministro. Até este momento do episódio temos a opinião pública a favor do Primeiro Ministro não acatar as demandas do sequestrador.
O ator pornô coletado pelo Estado é reconhecido e fotografado por alguém que publica a foto no Twitter. E essa informação é recebida pelo sequestrador, que manda para a emissora de televisão que acompanhamos através da narrativa, não só o dedo decepado da princesa como o vídeo do momento em que o sequestrador o corta. Agora que o governo foi pego tentando contornar as demandas, ou seja, que o Primeiro Ministro (que não sabia do plano do ator pornô) colocou a vida da princesa em risco, a população demanda que ele acate as exigências do sequestrador para que a princesa retorne salva.
Ao mesmo tempo que o plano do ator pornô estava sendo realizado, uma equipe tática estava em uma certa localização, identificada pela inteligência britânica como o local onde o sequestrador fez o upload do vídeo. Localização que foi assumida como o local de operações. A repórter da emissora de televisão que acompanhamos no episódio consegue, através de imagens privilegiadas (o famigerado nudes), o endereço deste local, e o invade um pouco antes do Primeiro Ministro ordenar que a equipe tática invada o local. Após eles descobrirem que o local é inútil, a repórter é descoberta e eventualmente alvejada, mas não assassinada.
Agora, sem nenhuma opção ou plano B, a assessoria do Primeiro Ministro não vê alternativa além de acatar literalmente as exigências do sequestrador. E tanto o Primeiro Ministro, quanto a Inglaterra e o mundo se preparam para um dos acontecimentos mais relevantes da história britânica. Um anúncio de que ter posse de qualquer imagem do Primeiro Ministro transando com o porco é configuração de crime, o que não impede as pessoas de gravarem , como o episódio nos mostra. O Primeiro Ministro é instruído por sua assessora a agir de maneira apropriada para mostrar sofrimento e cumprir as exigências do sequestrador, e recebe viagra e estímulos audiovisuais para performar o ato até ejacular. Então ele se depara com o porco, que está comendo sem parar, faz uma pequena fala, ressaltando esperança e piedade, antes de começar a penetrar o animal.
Enquanto percebemos as pessoas agregadas em torno da televisão assistindo esse “momento histórico”, vemos a princesa numa ponte, andando desnorteada na rua. Ao voltar para as pessoas que estão assistindo à cena explícita, percebemos uma mudança drástica na postura de todos os telespectadores. Agora, ao contrário do que exposto antes da transmissão começar, eles estão com feições fechadas, tristes, pesadas e sofridas. A princesa, desacordada na ponte, é socorrida por um policial enquanto o Primeiro Ministro se encontra debruçado na privada, vomitando após ejacular dentro do porco -- cena esta que não é mostrada, mas nas exigências do sequestrador estavam inclusas que o Primeiro Ministro só poderia terminar o ato sexual com o porco após ejacular. A assessora é informada que a princesa fora encontrada e que, para a surpresa dela, câmeras de segurança captaram imagens da princesa perambulando na rua trinta minutos antes da transmissão do Primeiro Ministro com o porco começar. Ela pede para que esta parte seja apagada do relatório, antes de relatar ao Primeiro Ministro que a princesa foi encontrada e está segura. O primeiro ministro então recebe um telefonema de sua esposa, o qual ele decide ignorar, assim como todos os telefonemas dela desde o momento que ficou claro de que ele teria de fazer sexo com o porco ao vivo na televisão.
Somos transportados para o aniversário de um ano do sequestro da princesa, onde vemos uma aparição do Primeiro Ministro e sua esposa, relaxados e confortáveis, assim como imagens da princesa em sua primeira aparição após a gravidez. Somos informados que o sequestrador era um artista premiado, cujo seu trabalho -- o sequestro e coerção -- foram identificados por um crítico de arte como a maior obra do século XXI, exibida para 1,3 milhões de espectadores. Aparentemente, o acontecimento não abalou a vida do Primeiro Ministro, que se mostra leve e popular na opinião pública, mas essa sensação logo passa ao vermos o Primeiro Ministro e sua esposa entrarem em casa, momento em que o marido implora pela atenção de sua esposa, que o nega prontamente, sem nenhuma palavra ou olhar expressivo.

Manipulação e Imersão na Convergência das Mídias
    Um dos pontos que me saltaram os olhos foi como o núcleo político, ou governamental do episódio foi cada vez mais coagido a agir de acordo com a pressão social imposta. Num primeiro momento, ele foi rapidamente forçados a reconhecer que aquela situação de refém era não somente real, mas também globalmente pública. Em seguida, numa tentativa de enganar o sequestrador, foi brutalmente exposto para a mídia e rechaçado pela opinião pública, surgindo daqui tanto a ordem de invadir o suposto local do sequestrador quanto a confirmação de que não teria jeito a não ser acatar as ordens dele. Outra coisa que a pressão social influenciou, na mesma medida que no núcleo governamental, foram as mídias -- tendo aqui, como exemplo mais expressivo, a NHK, emissora que acompanhamos ao longo do episódio. Não era intenção de nenhuma emissora ou editorial desacatar a autoridade estatal, mas a pressão social foi tanta que eles não tiveram escolha -- e por “não tiveram escolha” quero dizer que eles não podiam deixar os cliques irem para as empresas concorrentes.
Toda essa dinâmica de pressão da população foi expressada através das redes sociais, por permear majoritariamente um campo virtual, essa população não era -- ou não precisava ser -- britânica ou localizada na Inglaterra. A internet e as redes sociais claramente agiram como um unificador de intenções similares fazendo com que a força das opiniões e desejos individuais tomassem proporções maiores que a soma de suas partes -- o que por si é o próprio conceito de sociedade ou de social.
Outro aspecto bastante interessante no que tange as dinâmicas midiáticas é o movimento que chamo de confluência das mídias. Veja bem, todo o rumor, quanto o vídeo que provavam que a princesa fora sequestrada estavam circulando por um bom tempo na internet antes de serem oficializados pelas emissoras de televisão. O que podemos analisar neste relato é que, mesmo a prova do sequestro da princesa estando na internet, de nada ela serviu como validação do fato até a televisão dizer que, de fato, a princesa havia sido sequestrada e que, de fato, o vídeo era prova empírica disso. À esse tipo de dinâmica que dou o nome de confluência das mídias, no sentido de que para que haja penetração e influência nas massas, uma mídia sozinha não consegue mais fazer o papel por si só, sendo necessária uma interseção de mídias para confirmar ou validar uma dada informação. É preciso uma segunda tela.
Por fim, atrelada à confluência das mídias, aponto e proponho aprofundar o debate acerca de um momento, dos últimos minutos do episódio, antes do Primeiro Ministro e sua esposa adentrarem a casa, em que o repórter, que serve de narrador dos fatos que se tomam um ano após o sequestro da princesa, diz que todos vivemos aquela experiência -- no caso, a do sequestro. Esse é um ponto importante da confluência das mídias, onde a imersão nas telas proporciona uma experiência pessoal para quem se envolve nas informações, discussões e engajamentos sociais que se tomam em situação de alarde. Para ilustrar esse ponto, localizá-lo temporalmente e geograficamente, tenho, além da própria progressão lógica do episódio ( que em tese, se passa em local e época definida: Londres do século XXI), a tragédia envolvendo o time da Chapecoense em novembro-dezembro de 2016. Observo neste momento histórico uma verdadeira dinâmica de confluência das mídias, onde temos a imprensa como relatora da vida e impacto do time e do acidente nos mais diversos cenários -- do mais particular ao mais global -- e a televisão, que faz o meio termo entre o que a imprensa faz, ou seja, relatar o que acontece, e a internet, que engaja discussões e ações, virtuais ou reais, em níveis comunitários e sociais. A televisão neste caso opera como terceiro partido na confluência das mídias, interelacionando informação e comunicação.

Do Espetáculo: drama, comédia e tragédia
Um ponto dúbio do episódio é o que concerne as motivações do sequestrador. Afinal, qual era o propósito por trás do sequestro? Por trás da humilhação sofrida pelo Primeiro Ministro? Acredito que a resposta fique entre um possível statement acerca dos meios de comunicação e aparelhos midiáticos e o simples deboche artístico levado às últimas consequências. Isso claramente não poderemos saber por ele, já que o personagem se matou no meio da transmissão do Primeiro Ministro com o porco. Porém, podemos fazer um exercício de reflexão acerca de alguns pontos: o drama, a comédia e a tragédia do espetáculo.
O drama é o primeiro “gênero” que o sequestro toma para si. Afinal, temos literalmente uma princesa em perigo e um cavaleiro mais do que nobre que foi imputado de salvá-la das garras do malfeitor. Este momento acredito que tenha sido projetado para engajar a sociedade a acompanhar o espetáculo. Afinal, esta é uma história notoriamente emocionante que com certeza iria satisfazer os mais diversos ânimos.
A coisa, entretanto, começa a tomar proporções mais bizarras quando não só o núcleo governamental, quanto a sociedade toma consciência de que o Primeiro Ministro não tem para onde fugir. Ele vai ter que transar com o porco. E imagem de uma figura tão nobre, correta e limpa quanto o líder do executivo da Inglaterra penetrando um porco é,  não só em gostos pessoais mas em teoria do humor, uma situação cômica. Aqui vemos que o  interesse das massas de participar -- como participaria um voyeur -- do ato obsceno do Primeiro Ministro é motivado pelo teor humorístico por trás da situação. Interesse este que muda drasticamente a partir do momento que o espetáculo começa.
Na medida que o Primeiro Ministro penetra no porco -- e ele faz isso por mais ou menos uma hora -- as pessoas, por mais que vidradas no que a tela mostra, começam a sentir as piores sensações possíveis. Vemos no episódio uma série de posicionamentos tomados pelos personagens que claramente sugerem alguma empatia pelo sofrimento mostrado pelo Primeiro Ministro, fazendo com que os telespectadores passem a perceber o quão bizarra é aquela situação, talvez até mesmo fazendo-os perceber o quão igualmente bizzaro é o fato de que, apenas minutos antes desta tomada de consciência, eles estavam todos juntos encarando a transmissão como algo festivo a ponto de ter que ser compartilhado pessoalmente em comunidade. A tragédia se estende ainda mais para nós em dois momentos. No primeiro, ela aparece intercalada com a comédia, quando passamos a conhecer o quão inútil foi o ato heróico do Primeiro Ministro. O segundo, mais drástico e triste, quando conhecemos a vida particular do Primeiro Ministro um ano após o sequestro, em que vemos um matrimônio completamente devastado.

Do Suicídio
O ponto mais enigmático de toda essa trama é o suicídio do sequestrador. Novamente podemos supor coisas como “ele não queria sofrer as consequências de seus atos” ou “ele simplesmente não via motivos para continuar vivendo”, mas essas resoluções não parecem partir de uma análise compreensiva dos fatos disponíveis. Outra coisa que não se pode atestar solidamente é a tese de que o suicídio era premeditado, pois novamente não parte de uma análise compreensiva.
Partindo dos fatos de que o sequestrador não atentou à vida de ninguém a não ser ele mesmo -- e afirmo isso com veemência, já que o máximo que ele fez para com a integridade física de outra pessoa foi nocaute por químicos -- podemos seguramente endossar a tese de que ele não possuía motivações violentas. Visto que ele mesmo invalidou as próprias condições de liberdade da princesa sequestrada, podemos também atestar seguramente que ele queria, de alguma forma, provar um argumento. Ainda que este argumento seja uma incógnita.
Acredito ser uma análise plausível a de que ele, como artista, previu uma situação social com a qual ele não poderia conviver nem confrontar, e diante dessa incerteza, elaborou uma série de experimentos que pudessem comprovar sua futurologia. Uma vez confirmada, ele teve total consciência de que, em seus termos, o suicídio era necessário para que sua vida possuísse significado não para os outros, mas para ele próprio.
Referências
Wortham, Jenna (30 de janeiro de 2015). "'Black Mirror' and the Horrors and Delights of Technology". New York Times. Acessado em 9 de dezembro de 2016.


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Maior que um pio.




Se por acaso uma cobra morder-me o braço
Explodo-lhe a cabeça e dela faço um laço
O corto e queimo, suporto toda a dor
Mas nada nessa vida vai me fazer morrer de amor.