domingo, 14 de novembro de 2021

Bem Calminho E Desesperador


 


Estou na espera de algo acontecer.

Paciência é uma virtude e aquele que à tem desfruta paz em sua vida. As coisas demoram tempo para acontecer, as pessoas precisam de tempo para mudar e as próprias mudanças precisam de tempo para ficar. O passo do mundo é muito rápido e nisso acabamos por não notar o verde das árvores, a permanência do que lá já está e uma mudança de perspectiva se mostra necessária para a reconquista da paciência, visto que o tempo, por sua vez, é tangido pela percepção. Estou na espera de que algo vai acontecer, mas enquanto ele não acontece, é na paciência que encontro a paz para apreciar a permanência das coisas antes do ponto de mudança. E é nela também que encontro abrigo quando mudar é o único caminho.


Mas eu tenho sede.


Eu tenho sede de tudo. E eu to morrendo de sede. Na pegada Earn "Eu preciso comer hoje, não em setembro", sabe? Então essas entidades, a paciência -- expressão da minha consciência e mesura -- e a sede -- o Ímpeto por aquilo que vai me saciar -- se chocam e nesse constante embate nascem não só o desespero frente a insoludibilidade do combate -- este fruto da sede -- mas também é criada a calma frente a constatação de que a prudência costuma ser o melhor caminho -- esta, por sua vez, fruto da paciência.


Obviamente há de se pensar que, até por nossas experiências pessoais, eventualmente uma vence sobre a outra numa batalha para que eventualmente perca na próxima. É somente humano, natural. É assim que encontramos o equilíbrio em nossas vidas, aprendendo com as vitórias do desespero e da calma. Mas então lhes trago uma nova situação, um novo equilíbrio. Paciência e Sede não lutam mais. Seus frutos, Desespero e Calma largam suas armas e todos passam a somente existir no mesmo espaço, em paz. Não existe mais conflito, não existe mais o embate, e todas as forças opostas dividem o espaço do seu coração, eliminando assim qualquer expertise e experiência que possam te ajudar a se resolver. E tudo que te sobra é um pouquinho de bom senso e muita improvisação daqui pra frente. Todos juntos tomando um brunch no âmago da sua alma enquanto você segue o jogo, no ponto de surtar e perder tudo mas por algum motivo completamente em paz consigo mesmo, fazendo com que o mundo todo se torne exatamente assim:

bem calminho e desesperador.

Falou!

sábado, 30 de outubro de 2021

Você Acredita em Mágica?


    


 Todos nós acreditamos em algo. Deuses, o Axé, o universo -- todos estes e muitos outros são objetos de nossas súplicas e graça. Não sou um cara muito religioso ou espirituoso, mais pela ignorância do que saber com certeza de que sou ou não sou algo. Mas não me iludo, não existe não crer. Todos nós cremos em algo e vivemos em prol dessa crença.

Uma das coisas em que acredito é em magia.

    Ok, podem rir. Até porque com certeza estamos falando de coisas diferentes. Quando falo em mágica, na cabeça de todos nós, minha inclusive, vem Harry Potter, vem Gandalf, ou sei lá o que é mágico na cabeça das pessoas hoje em dia. Quando digo que acredito em magia, tomo um conceito muito mais antigo e até mesmo broxante pra quem se encanta com a expectativa de se aprender uma nova teoria da magia. Sou fã de um velho barbudo, morador da Jerusalém do condado de Northamptonshire, Northampton. Ele mesmo, O Escritor Original:

Alan Moore.

    Alan Moore, ao contrário de mim, acredita na e pratica a magia. Fez disso seu ofício e é um dos magos mais poderosos da atualidade. Como ele relata em seu The Mindscape of Alan Moore: "Magia, em sua forma primordial, era de costume referenciada como A arte. Acredito que isso é completamente literal; que magia é arte e que arte, não importa a forma que tome, é magia. Arte é, como a magia, a ciência de manipular símbolos, palavras e imagens para alcançar mudanças de percepção, de consciência." Ele segue explicando: "Um grimório é só um jeito chique de falar gramática. Na verdade, conjurar um feitiço é somente manipular palavras para alterar a consciência das pessoas. Um artista, ou escritor, é a coisa mais próxima que temos no mundo contemporâneo de um xamã."

    O que Moore quer dizer com essa ideia de magia é que as palavras tem poder. E me diz se isso não faz o maior sentido? Um discurso que te inspira a seguir em frente com muito mais ânimo nada mais é do que um encantamento de força de vontade. Essa caralhada de fake news nada mais é do que uma conjuração de área para prender o povo numa ilusão. Palavras carregam muito mais poder do que podemos imaginar a princípio.

E é por isso que eu levo as palavras muito a sério.

    Pode ser alguma disfunção psicossocial também, nunca saberemos sem investigar. Mas desde que passei a acreditar em magia, minha relação com a palavra dita mudou completamente. Quando digo uma coisa, não importa o que foi dito, pra mim, em um nível espiritual, uma magia foi conjurada. E tenho vivido assim desde então. Infelizmente ou não, acabo transferindo isso para as pessoas ao meu redor também. Palavras são ditas à alguém. Com quem você tá falando? O que você tá dizendo? Palavras são ditas com intenção. Qual será a intenção, então? Convido ao leitor que reflita: você pensa nas palavras que você diz? Nas magias que constantemente conjura? Ou você está somente soltando bolas de fogo a torto e a direito como se a palavra não fosse um artifício feito para ser lido? Como se um feitiço não fosse uma ação que parte do mago para seu alvo? Palavras são poderosíssimas e são capazes de mudar o mundo.

São capazes de mudar você.

        Palavras são magias, encantamentos, feitiços que mudam e distorcem o que as pessoas percebem, pensam, esperam. Desde então tenho levado palavras muito a sério. E é claro que não é sempre que sigo isso. Mas sigo cada vez mais. E nessa crença, acho o propósito que busco para continuar em frente. Realmente não estava esperando que este texto fosse uma chamada para a consciência, para o momento presente. Mas agora ele meio que é, né? Eu mesmo queria que este texto fosse uma bola de fogo, como o ser de vingança que meu ímpeto gosta de ser. Mas da mesma forma que existem palavras que precisam ser ditas

Há também feitiços que não valem a pena encantar.


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Mais uma vez agradeço por terem lido até aqui por favor comentem, se quiserem. FALOU!


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Sobre As Situações Onde Todos Perdem


    



    Se você, assim como eu, tem um interesse particular em resoluções de conflitos, já deve ter ouvido -- provavelmente devido às séries norte-americanas que constantemente usam deste artifício para plots de sitcoms -- das famosas "win-win situations", ou situações em que todos ganham. Obviamente, ela busca solucionar uma questão de forma em que todos recebam algo positivo ou favorável. Assim como Carole Pateman se utilizou d'O Contrato Social para desenvolver a brilhante ideia d'O Contrato Sexual, venho com uma versão mais pobre e nada original da ideia propor uma conversa sobre as "lose-lose situations", ou as situações onde todos perdem.


    Como exatamente elas funcionam: É simples, ninguém ganha.

Humor.

    Para elucidar melhor, uma situação: Imagine que você está chateado com um amigo, ele anda distante, você sente falta dele, ele não parece ter tempo para você. Talvez o seu bom julgamento o diga para conversar com ele, mesmo que vocês não possam se encontrar. Talvez compartilhar um meme ou post, quem sabe entender um pouco da vida dele antes de dizer o que você gostaria que ele soubesse. Aqui temos bons fundamentos para as situações que alguém ganha, pelo menos.

Mas não são dessas situações que estamos falando aqui, você tem vários youtubers para isso.

    Estamos aqui para as situações em que todos perdem. Você não gosta de se sentir negligenciado pelo seu amigo, não busca conversar com ele por se sentir desgostoso com a situação toda. Também escolhe não desabafar com alguém, ou trazer a discussão para uma terapia -- é ótimo trabalhar questões que temos com as pessoas na terapia, sabia? -- ou até para alguém que você pode contar nessas horas para te aconselhar. Você não está pensando muito bem nas consequências, afinal, seu julgamento está nublado pela raiva que você sente. Cê escolhe explodir na internet, com indiretinha no Instagram, Twitter, TikTok, sei lá. Seu amigo, embora distante de você, fareja quando o assunto é com ele rapidinho, e não gostou de tomar um sucker punch enquanto lê uns tweets na pausa para o café. O que pode ser ele desabafando sobre outra amizade, um crush ou trabalho passa a ser sobre você, que já tá virado de ódio. Você, do alto do seu cavalo, dono da razão, começa a tratar mal seu amigo, e já não sabe mais quais são as reais intenções de cada ação ou reação dele, silencia, bloqueia, responde mal, ele percebe tudo. Ele também já começa a não fazer questão da sua amizade e reage de forma fria à assuntos que tangem vocês. Eventualmente vocês conversam, expõem suas dores, ninguém se entende e uma amizade morre. Da pior forma ainda, pois morreu de morte matada. Você matou sua amizade com seu amigo, ele matou a amizade que tinha com você e o pior de tudo, como vocês nunca chegaram de fato a conversar sobre os atritos que levaram a relação a se desgastar, ambos abertos, com empatia numa mão e perdão na outra, uma amizade morreu por nada. E todo mundo envolvido aqui perdeu.

    Não me leve a mal, as coisas precisam morrer. Mas as pessoas não precisam perder com a morte (a não ser a vida, né? #humor), muito menos morrerem depois das coisas. Situações em que todos perdem são frustrantes por não levarem a lugar nenhum. São um esforço direcionado à um monolito que nunca moverá. Mas, como esperado, existe uma opção, acredito eu, para as situações em que todos perdem. Uma solução bem simples, eu diria, que seria a tomada de consciência. Acredito que para situações como essa é importante que tomemos plena consciência da situação, pois uma área que não costumo muito ver sendo discutida é o quanto se perde nas situações em que todos perdem. Às vezes, a perda entre as partes pode ser desigual. Você pode estar ai pegando o seu tempo valioso, tudo que você de fato tem no mundo, e tomar ações completamente estúpidas com ele de forma a fazer com as outras pessoas com quem você interage também percam. Mas será se elas estão perdendo tanto quanto você? Será se o dispêndio do seu lado tá menor? Será se as partes que perdem junto com você estão perdendo da forma que você esperava? Ou elas lidam melhor com isso do que você? Será que a satisfação que você tem com a sua ação é duradoura ou -- ainda melhor -- construtiva?

Você tem certeza que só não tá perdendo o seu tempo?

    O amargo das situações em que todos perdem é que tanto as nossas ações quanto as consequências delas saem pela culatra. Quando você busca ferir -- ainda que inconscientemente -- alguém, você acaba se ferindo. Ao buscar chatear ao outro, você acaba mostrando o quão chateado você está. Uso minha experiência mesmo, pois nela vejo cada esforço mal direcionado partir do ator como bumerangue somente para retornar na cara de quem o lançou pra frente. E de tanto ser o agente principal quanto secundário das situações em que todos perdem, acabo as percebendo com certa facilidade. Com certo carinho, também. É somente estatístico dizer que todos participaremos em situações onde todos perdem eventualmente. O quanto perderemos já é um âmbito mais cinza para previsões. Mas ninguém tem culpa de estar numa situação dessas, pelo menos na medida em que por ventura caímos nelas, visto que somos seres emocionais, fadados à cair em tentação. Para você que engajou, se meteu ou foi metido numa situação em que todos perderam uma vez ou outra, no mínimo você é um aprendiz, no máximo um azarado. Com método e prática tudo se resolve. Agora, se você ativamente engaja em situações em que todos perdem, é crucial que você seja não só sua própria ruína mas principalmente a ruína de quem perde com você, porque se você tá perdendo cada vez mais e as outras partes perdendo cada vez menos, a lose-lose situação se descaracteriza, e no fim do dia

Você é só um perdedor fodido.

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domingo, 24 de outubro de 2021

Era de Movon



    

    Já era tarde do sábado, quase virando a zero hora, quando recebi a notícia que você havia saído de vez da minha casa. Era esperado, claro. Mas sei lá, mesmo sabendo o que você quis dizer, assim como Herbet, acho que não quis escutar. Na minha cabeça o que eu queria ter ouvido era melhor, sabe? E uma vez liberto pela confissão, o que me abalava se tornou somente luz que refletia ao tocar na minha pele.

    Infelizmente, a luz refletida também me cegou para a realidade brutal de que o que me abalava te dominou também. Talvez até mais, não sei. E não saber faz nascente das esmeraldas, da nascente surge um rio, e deste rio, cachoeira. Uma cachoeira de rancor que flui forte como se fosse ancestral, pois a dor deste parto é tão ancestral quanto a primeira tragédia do mundo, dado que você caiu pelas mãos de seu igual.

    Não importa os motivos, realmente achei que poderia nos consertar se Deus me concedesse perdão. Ele de bom grado o fez, visto que seu Senhor é justo. Mas o fez somente para me mostrar que não é só de perdão que se melhora o mundo. Tem muito querer envolvido, muita confiança e, obviamente, pouquíssimo tempo. O seu tempo acabou, e por conseguinte o meu também. É preciso saber muito para melhorar, e enquanto cruzo essa ave de argila branca que nós chamamos de pátria, percebo que de você não sei mais nada. Dizem que

A esperança é a última que te mata,

E agora que você saiu, acho justo tomar uma posição ativa para que me torne aquilo que prometi ser no reencontro. Mas por mim, não por você. Se um dia voltar, deixo esta carta aqui para que possa encontrá-la. E a partir de então me torno a esperança do que eu esperava de nós, pois se o inimigo do meu inimigo é meu amigo, a esperança da minha esperança é sua assassina.

E parti.

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Falou!

domingo, 17 de outubro de 2021

Um Retrato da Tristeza.

   



 Tem hora que não consigo me conter. E então ataco. E vou atrás. Digo tudo que quero dizer, afinal sou tão melhor que você. Jogo mais gasolina no fogo. E me fodo por sentir frio depois. Vou lá e jogo mais. Da minha cobertura observo todo o movimento e os erros que você comete, pedestre e descoberto na chuva da desgraça. Fracassado. Fodido. Seu bosta. Sou juiz e você só mais um condenado que nem merece meu julgamento.
    
    Quer dizer, mal merece meu julgamento.
    
    É como se você estivesse pedindo pra tomar na cara. Você tá tão exposto que é impossível eu não te aplicar meu parecer, minha punição. Meu julgamento é absoluto. E então você se torna aquilo que julgo. Tudo. Não importa o quê, você não precisa saber de onde vem, pois você é só um alvo. Eu sou o acusador, o juiz e o algoz. E não tem nada mais importante pra mim do que deixar bem claro o que eu penso de você, pois alguém merece te colocar no seu lugar. E esse alguém sou eu. E eu vou até o fim com isso, pois não vou abrir mão de chutar cachorro morto, seu vira-lata maldito. Sua falsa coragem não vai te salvar da minha obliteração. Não vou abrir mão. Não posso abrir mão. Pois me apegar ao total desprezo e asco que eu tenho pela pequenez que é a sua existência podre até você quebrar é o que me faz seguir em frente.


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Falou!

terça-feira, 12 de outubro de 2021

3 Paradas Que Aprendi Com A Escrita Terapêutica




    A escrita terapêutica é simplesmente a prática de escrever deliberadamente por alguns minutos, podem ser 10, 20, 30... bicho tem gente que vai 1h escrevendo sem parar. O que se escreve é muito simples:

tanto faz.

    Pode ser o que aconteceu no dia anterior, o que você espera pra hoje ou pra amanhã. Como você se sente sobre determinado assunto -- família, relacionamentos, amizades, trabalho, futuro-- ou qualquer outra coisa que vier na sua cabeça, pois a meta aqui é justamente escrever sem qualquer julgamento, contanto que você escreva sobre algo. Com base na literatura, na psicologia e na minha própria experiência nessa prática, vou descrever 3 coisas que aprendi com a escrita terapêutica. Mas que experiência é essa? Eu te conto

     Da primeira vez que ouvi falar desta prática, ela estava dentro da roupagem da morning pages, ou seja, atrelada à uma rotina matinal. Isso foi no final de 2018, quando num sábado eu cheguei do trabalho, capotei no sofá e quando acordei meu celular estava tocando vários vídeos da Amy Landino. Depois ouvi com o Matt DÁvella, depois com a Dafne Amaro... Mas só em um seminário de psicologia do trabalho descobri o nome Escrita Terapêutica. Tenho feito isso desde 2019, quando aceitei trabalhar em 2 empregos, o que me fez ter uma carga de trabalho de 50-60h semanais. Eu sabia que ia surtar, pois já sofri burnout anteriormente, então achei que seria interessante escrever diariamente como eu me sentia para que pudesse analisar melhor o meu estado mental. Na maioria das vezes, tem dado certo, e vou falar agora o que aprendi com isso.



1- Você se torna capaz de ver as coisas de uma perspectiva de fora.

    Ao escrever o que quer que seja no papel, você naturalmente consegue colocar uma distância física entre o que você está pensando -- e escrevendo -- e você. Com isso, muitas vezes você se torna capaz de enxergar a sua própria situação como se você não fizesse parte dela. Sabe aquela coisa de ser ótimo em dar conselhos, mas ser péssimo em seguir seus próprios conselhos? Quem sabe se colocando fora dos seus próprios problemas você não consegue se dar conselhos melhores, mais fáceis de seguir?

2- Cê pode se surpreender com o que escrever.

    Como você, ao longo do processo de escrita, está constantemente se percebendo por uma perspectiva de fora, você pode se surpreender com o que pode aparecer ao longo do texto. Nós muitas vezes não conseguimos seguir uma linha de pensamento introspectiva de forma honesta, e quando nos damos a oportunidade de perseguir isso, nos deparamos com verdades brutais. Entretanto, nem sempre ruins. Quando digo que você pode se surpreender, digo que você pode ter momentos de muita empatia e gentiliza consigo mesmo. Vai me dizer que você não quer empatia & gentileza?! 

3- #datecomigomesma.

    É um momento legal de colocar uma música, quem sabe ir num café, ou um restaurante maneiro... Ir num parque ou uma praça, caso você esteja sem grana. E simplesmente aproveitar o momento. Eu mesmo fazia isso nos dias que trabalhava nos meus dois empregos. Eu lembro que tinha exatamente uma hora livre entre chegar de uma cidade à outra e começar meu outro turno. Pô, eu tomava um suco, ou comia uma fatia de torta na padaria chique mais próxima. Às vezes até variava a padaria chique. No fim das contas, apesar de parecer idiota, eram momentos legais, dos quais eu me lembro até hoje.



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Espero que tenha gostado do texto. Comenta ai o que você achou, se já conhecia a escrita terapêutica ou já pratica/praticou isso. Eu gostaria muito de ouvir de você que leu até aqui.


Falou!

sábado, 9 de outubro de 2021

O Nuncapronto





 É cansativo!!

Você corre, você anda, pra frente, pros lados, pra trás, de costas. Porra, cê até se arrasta. O foco é claro, a determinação também. Ainda assim, o que resta a se fazer fora ter paciência para se manter diligente? Ter diligência para caminhar nem que seja um pouco? Caminhar para limpar a mente? Limpar a mente para ter paciência?


É frustrante!!

O sempremfrente, o semprumpouco, a semprepaciência nos deixam semprefocados e nuncadistantes do nosso propósitometa, e a mentafilosofia de que as coisas são semprepossíveis enquanto continuarmos nunquestáticos  nos reconfoca mas também nos recoenforca numa corda preparada por nós mesmos. E o sempremfrente, semprumpouco se tornam o nuncapronto, o nuncafeito, o semprelonge. E não me leve a mal aqui, é importante estarmos sempratentos a nós e aos outros, mas nessa de "como posso estar perdido se não tenho nenhum lugar pra ir" a angústrospecção se torna "como posso estar seguindo em frente se eu nunca vou pra lugar nenhum?"


Until you take action, you're standing still."

-Matt D'Avella.

domingo, 26 de setembro de 2021

Aceitação




 Tenho subido cada vez mais alto nesta montanha. O sucesso. O topo, o pico. Me tornei mestre do meu domínio e nada mais me fere. Não existe acaso que me abale, não existe golpe que me machuque. Aqui no topo da montanha, além do horizonte, não existe nada! Aqui no topo não existe resquício de história, nem natureza que não esteja morta. Não existe companhia. Tudo que existe aqui sou eu, e vivendo no momento plenamente, percebo que minhas únicas opções são ou me bastar ou desistir de tudo e descer. Voltar. Mas assim como Zaratustra se tornou incapaz de ressuscitar  Deus em seu coração, me é impossível descer da montanha.


Mas infelizmente, não me basto para ficar aqui, somente eu a montanha e o horizonte. Preciso descer, o que quero está lá embaixo, mas não posso mais ir lá buscar. Impossibilitado de voltar, impossibilitado de ficar. Neste momento me vem a própria e pura angústia. Dor de existir. O desespero de Johannes Climacus ao dançar com alguém que não fosse a morte. Johannes Climacus. Se a religião nada mais é do que um salto de fé, tiro a prova aqui mesmo e pulo na certeza de que encontrarei o que me ligará de novo com tudo e todos que deixei lá embaixo. Traindo o desejo de quem me amou mais que tudo no intuito de me salvar, percebo a perspectiva da linha do horizonte, antes tão baixa, caindo gradativamente, eu na altura do Sol, o vento cada vez mais forte, e toda a sensação de liberdade e excitação pela adrenalina... simplesmente não existe. Antes, somente eu a montanha e o horizonte. Agora, eu a queda e o vento. Já não correspondo como deveria as coisas que acontecem ao meu redor ou até mesmo comigo. E na corrida de subir a montanha, precisei pular do precipício para entender que eu sou a montanha agora. E agora só me resta viver neste momento, igual vivi lá em cima. Se eu tivesse pensado melhor, teria pulado de paraquedas para deixar uma mensagem lá em cima depois, não quero que outra pessoa precise mergulhar lá de cima pra entender que não existe escolha uma vez que você entende que você só pode se bastar para viver. Teria sido bom ter entendido isso antes, pois agora não tem mais jeito. Não que seja algo ruim ou bom, mas nada vai mudar. É só isso. Toda a nossa experiência é só isso, e na ignorância do pouco que vivi, sinto que já vi o que o mundo é e o que ele tem pra mim. Mesmo tudo mudando tão de repente aqui embaixo, aceito a condição e vivo cada segundo como se fossem uma vida em si até que o horizonte se torna sombra , minha chegada trovão, e finalmente do topo chego até o chão.


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Muito obrigado.

domingo, 19 de setembro de 2021

O Que Nos Cabe


  


  As pessoas eventualmente falharão conosco. É inevitável. E essa falha vai doer na gente, talvez vá doer nelas também. Causará ansiedade, desânimo, até mesmo a perda do senso de propósito em dada relação.

Pra quê que sigo insistindo aqui?

    Talvez, seja porque você se importa. Seja numa relação no trabalho, com amigos ou aquele alguém especial (me sentindo muito engraçado agora), você percebe que pode tirar muito valor dessa relação, e que a pessoa ou pessoas que você busca construir laços também podem tirar algo do que você tem a oferecer. E, ao falharem com você, é como se elas tivessem atacando a sua boa vontade e disposição em se oferecer à elas, afinal, é um sentimento tão genuíno, sincero, proativo. Por que fariam algo assim?? Porra, é um sentimento tão bom.

Só que não acredito muito nisso, não. Pra mim, somos um pouco mais cruéis que isso. Egoístas. Pra mim, não somos tão altruístas assim.

    Fora nos momentos em que somos tomados pela droga mais poderosa do mundo -- o amor -- eu acho realmente difícil se importar genuinamente quando falhamos com alguém. Mesmo quando o Deus-Sociedade nos obriga com sua força onipresente a nos importarmos com os outros, é mais pela coerção social do que por nós mesmos que praticamos o se importar. O motivo tá simplesmente na nossa gana, nosso ímpeto eu buscar satisfazer as nossas necessidades, a vida é uma constante busca por esta reparação. E quando a nossa expectativa de ter a recompensa não se paga, bom, é normal nos sentirmos frustrados. Não é um valor adquirido, mas um sentimento genuíno. A onda que a gente sente quando o que necessitamos dá certo é dopamina pura. Puro ahegao. 

Mas, novamente, não acredito muito nisso também, não. Nos importamos somente com o que sentimos, sem qualquer consideração pelo outro. Mas o Egoísmo não é o único traficante que te dá o barato que cê precisa.

    Sinceramente não sei te dizer em que medida isso é uma programação do Deus-Sociedade. Ou mesmo se é uma necessidade que ficou engendrada em nossos genes desde a época do homem das cavernas, como a ciência norte americana adora postular. Mas a real é que a gente só curte ser útil. E de alguma forma, acertar com os outros satisfaz nossa própria busca por prazer. É por isso que é legal ajudar alguém. Ver que alguém se abriu com você, ou confia na sua presença. Que alguém te admira por aquilo que te define como único com relação ao resto do mundo que vocês acessam. Quando tiramos nosso próprio valor do ter valor para quem nos importamos, satisfazemos não só o altruísmo inerente ao que aprendemos ser bom e recompensador, mas também ao egoísmo sádico que nos faz virar os olhinhos de prazer.  Em contrapartida, você deve entender o que é o amargor na boca quando falhamos com as pessoas para as quais queremos ser úteis, das quais precisamos contorcer para ficarmos bem. Não tem outro nome, não tem conceito,

É culpa.

Nós nunca somente falhamos em fazer algo. Falhamos também com as pessoas que contavam conosco. E conosco, uma vez que ao contrário dos elogios e glórias advindos do nossa solidariedade, recebemos pesar, chateação, resignação, traindo nosso prospecto de satisfação egocêntrica por não termos sido suficientes. Naturalmente, como a boa teoria psicológica ensina, à nós cabe, primeiramente, aceitar. Ficarmos confortáveis com a ideia de que nem sempre faremos o melhor. Às vezes, você vai querer machucar alguém, e vão querer te machucar também. Às vezes, mesmo você querendo se curtir e curtir o momento, você vai ferir alguém. E será ferido também, muitas vezes pelos motivos mais idiotas. O que não é necessariamente sua culpa, mas também, se você não se resolver, cara,

Quem é que vai?

O que nos cabe é justamente reconhecer que nós como indivíduos falharemos perante o Deus-Sociedade e seu rebanho, e também entender que não importa muito quem é que esquentou essa batata, se a música acabou e ela caiu na sua mão, ela é sua pra cuidar. E talvez seja interessante pensar em formas de mitigar a dor da queimadura. Tanto pra você, quanto pros outros.


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sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Inferno.





     

        Esse é o tipo de coisa que me leva ao extremo

        Que me dá vontade de correr de frente ao carro inevitável que vem de encontro ao meu ímpeto

        Tamanha a raiva que me faz sentir

        Tamanho é o inferno que me faz sofrer

        Mas, Divina é a memória em nossos corações

        O acaso da morte, o milagre da fé

        A garra à vida, a constante angústia

        E só me é preciso um instante


        Eu daria minha vida por você

        Mas não posso abrir mão dela tão facilmente assim

        Não pela sua ira

        Não pelos seus erros

        O que esse inferno faria com você?

        O que meu sacrifício diria de mim?

        De você não sobraria nada

        Eu seria somente um desertor

        Daquilo que me é mais precioso

        Por isso nos meus olhos se encontram a serenidade de quem daria a vida por você

        Mas simplesmente não vai.


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Muito obrigado.

domingo, 12 de setembro de 2021

Agora Eu Sei.




Agora convivendo com as duas maiores pandemias da atualidade, acordei para uma nova percepção. Às vezes achar que sabe pode parecer suficiente, mas nada é mais valioso do que o saber. E na minha mente eu achava que sabia várias coisas. Eu achava que sabia o que o outro estava pensando, fazendo, achando de mim e dos outros. Achava que sabia lidar com a tragédia, caso ela ocorresse. E que sabia como me sinto. E numa viagem sem fim pelos universos paralelos, todos resultados dos meus múltiplos "e se...", me vi perdido dentro da minha própria cabeça. O mais preocupante:

Dentro da minha própria ignorância.

Acho graça do tolo que diz "ignorância é uma benção". E gostaria de falar dele mesmo, o mais famoso de todos, para ilustrar meu ponto: O El cananeu, e o Yavéh, dos semitas -- Deus. Particularmente, apesar de interessado, não sou stan Dele. Mas quem é, por exemplo, não é agraciado por ele por não saber de que ele existe, e que age na vida de todos que creem ou não. É justamente por saberem que são abençoados. Como eles sabem? Ah minha amiga, meu amigo,

Vai saber!

O que quis dizer com isso é que é justamente sabendo que podemos aceitar as coisas, ficando então em paz com sua constatação na existência. Foi sabendo que parti feliz de seus braços. E foi ponderando que quis voltar. Foi perdido em condicionais que nunca mais pude conversar com você. Mas foi vivendo o que aconteceria que pudemos dizer um "te conto depois sim" com gostinho de "até nunca mais". Foi vivendo na ignorância que me prendi num mundo onde só estava ao meu alcance aquilo que podia desenhar, foi supondo que me prendi. Mas agora, o mundo certamente está cheio de esperança. Pois agora, 

Agora eu sei. 

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domingo, 5 de setembro de 2021

O Vinte e Oito


 


Não sou muito de acreditar no Céu. Mas não tem um inferno do qual eu duvide.


    Escrevi essa frase ali há um mês atrás, mais ou menos, pois foi o dia em que começou o meu inferno astral. Não acredito em signos. Não acho que sou regido por estrelas mortas. Mas eu nunca vou ter a coragem de duvidar do inferno. E posso até peitar o demônio, mas nunca vou duvidar de sua maldade. Se você é brasileiro, sabe bem aonde nos leva duvidar da perversão alheia. Não acreditar no melhor, no bem me garantiu ficar mais um ano aqui. E por mais que este seja um caminho interessante para se abordar, vim falar de outra coisa: Do inferno em si.

    Tem sido um mês horrível, um pouco mais de um mês de azar na verdade. E passei por todos os sofrimentos que você pode imaginar, isso sem contar as doenças e acidentes que tive ao longo desses 40 dias. Dormir foi um inferno, trabalhar foi um inferno, cair foi um inferno, levantar também. Ser eu foi um inferno, pois eu não acertei uma o mês todo. Fui insuficiente, infantil, egoísta, tomei por certo o que não devia ter tomado, regredi em comportamentos que já haviam sigo expurgados-- escrever às 3 da manhã apesar de super nostálgico e jovem, é uma das últimas coisas que eu queria pra minha vida agora -- e, pra quem prometeu destruir tudo que não podia ser curado,

BICHO!!!

eu to só a Miley Cyrus. E ontem especialmente, puta merda, tudo que podia dar errado, deu. 


    Ainda assim, mesmo começando meus 28 com os 2 pês esquerdos, acho que nunca me senti tão bem. Ao aceitar o que aconteceu, o que fiz, sem pesar pra cima ou pra baixo as coisas, só me resta acolher e seguir em frente. Ao olhar pra trás, percebo que boa parte do que plantei nos últimos anos foi queimado pelo fogo das minhas próprias incertezas, raivas, tristezas, desesperos. Mas, felizmente, nem toda planta queimou. Muitas dão frutos até hoje. E até mesmo consigo perceber brotinhos surgindo do chão ferido, trazendo vida nova pra uma plantação que já viu dias melhores. Vai ver é a sina da castanheira nascida no cerrado, 

precisa de pegar fogo pra florescer.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

A retratação de Birgitta Lundblad





Como eu não sei
Você acabou comigo
Me partiu o coração
Eu te salvei da morte
E você me matou em retribuição

Eu realmente não sei
Mas de alguma forma juntei
Todo o amor que tive e te dei
Enquanto você em noites quentes
Metropolitanas
Se mostrava distante e ciente
Uraniana
De meu humor fez algo cative
E só posso esperar que cultive
De natureza obediente e crente
Aquilo que sempre contive
Profana

Ainda que se mostre inútil
É cabida a retratação
Pois maior que o meu antigo obrigado
Se mostra o quanto eu me sinto obrigado
A retirar qualquer gratidão
Que já lhe dediquei em tom gentil

domingo, 29 de agosto de 2021

Até O Pescoço




O que mais podemos fazer?? Nós não podemos achar nossa situação ruim, não podemos ter raiva, não podemos ficar tristes. Muito menos ficar revoltados com os outros. Não podemos dizer não. Mas não podemos agradar todo mundo também. Não podemos ser alheios às necessidades das pessoas ao nosso redor, não podemos julgar antes de conhecer, não podemos reagir explosivamente também, pois isso é um indicativo do quão despreparados e instáveis podemos ser para os outros. Não podemos ter o que queremos, nem o que precisamos. Não podemos esperar, muito menos não esperar. Não podemos comprar carne. Não podemos sair de casa, mas não podemos mais pagar o aluguel também. Não podemos não ter calma. E não podemos ter uma sexta pra encher a cara na internet. Não podemos ter finais de semana, nem um dia de descanso. Não podemos ter nosso próprio espaço. Não podemos não ceder. E a gente não pode desistir nunca. Nunca.

E ai eu te pergunto:

Como esperam que a gente continue vivendo com esse tanto de "não podemos" até o pescoço?? Eu sei lá a resposta, e francamente não poderia ligar menos pra ela. Afinal, se tem uma coisa que a gente não pode nunca fazer,


É perder a cabeça.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Como me sinto sobre você parte 3:


 



Basicamente, pesar.


Porra, o que aconteceu sabe? Ninguém era melhor que a gente. Quem te entendia melhor que eu? Quem me entendia melhor que você? Como a gente se perdeu?

Eu tenho todas as respostas

Mas ainda assim, é meio difícil acreditar nelas, sabe? Ontem mesmo eu tava ruminando sobre esse luto e como nesse caminho até a aceitação eu sou só raiva. E tristeza. Eu não sei porque você mentiu pra mim, realmente não sei. Não sei o que você ganharia com isso também. Eu realmente achei que a gente sentia o mesmo um para com o outro. Amizade, parceria. Gostar de estar perto.

Amor

E é por isso que não consegui entender o porquê você deixou de me procurar. Eu te procurava. E você procurava todo mundo. O que será que fiz de menos?? Quem fez por você mais do que eu fiz?? Não importa. Nada disso importa nem nunca importou porque a gente antes de ter consideração sempre teve uma relação. Agora nem sei se isso importa mais, afinal,

Você já partiu daqui.

Mas eu ainda to aqui. E meu mundo está repleto de fantasmas seus caminhando pelos corredores, me olhando de relance enquanto sai da sala para cozinha. Enquanto eu volto pro meu quarto. E tudo aquilo que a gente teve parece um sonho desperdiçado. Tudo aquilo que a gente não teve é gosto de ferro. Tudo aquilo que a gente poderia ter

É um choro que eu guardo comigo pois tenho medo de não conseguir segurar caso o solte um dia.

Um dia, num velório, o corpo de um pai esperava a hora de sucumbir à terra. Aos pés do caixão, sua filha esperneava incrédula, chorava um grito de quem parecia estar sendo cortada ali mesmo. O padre em serviço, ao testemunhar a cena, dirigiu todo seu discurso para essa filha. E a disse como o desespero perante um morto nada mais é do que o remorso pela palavra não dita. Do perdão não concedido e recebido. Eu a olhava com certo desgosto na época -- pelo menos mostre respeito pelo seu pai. -- Mas hoje me vejo nela. Remoído e desesperado. Inconsolável.

Chiliquento.

Chega a ser engraçado né?! Puta merda... Como odeio passar por isso. Você é tão importante pra mim e agora nunca mais. Cê tava ali ontem. E hoje? Só sua sombra. Seu vulto. E a lembrança do último tchau  que você me deu. Quem diria né? Foi só você partir que eu nunca mais te vi de novo. Eu não sabia que sentiria tanto a sua falta assim. Mas também,

Do que adianta agora?



domingo, 27 de junho de 2021

O CHEIRO DO RABO DELA

     




Geralmente é pela manhã. Logo depois que eu volto das minhas obrigações. Digo bom dia, seguido da mesma pergunta de sempre

    E aí, cê tá boa?

Ela me responde e pergunta o mesmo, por pura educação. A gente não é próximo, sabe? Mas ela sempre sabe dizer se eu tô bem ou não pelo jeito que a respondo. Nem sempre sei dizer como que ela tá e isso deixa a nossa dinâmica bem clara: Eu tô sempre disposto a compartilhar mais coisas do que ela. E tá tudo bem, pois quando não estou muito egoísta pra me importar com os outros, estou muito conformado em não ser a pessoa que os outros ao meu redor procuram para desabafar. Não seremos muito mais do que já somos, nem saberemos mais do que já sabemos um do outro. E por mim tá tudo bem, até porque ninguém no mundo pode me tirar

o cheiro que o rabo dela tem.

    Posso me lembrar como se TIVESSE ACABADO DE ACONTECER. O cheiro fresco, direto da fonte. Pungente. Saudável. Não como um soco na fuça, mas como um empurrão na parede, seguido de um beijo. Pura luxúria, direto da fonte. Ela não me tem, nem nunca vai me ter. Mas se me quisesse me teria. Sempre que quisesse meter. E ela teve todas as chances de não me deixar saber, de não me apresentar o cheiro do rabo dela. Eu sei qual é o meu lugar, e sair dele eu nunca o faria. Nunca o fiz! Mas se eu sei algo tão pessoal como o cheiro do cu dela,

foi porque ela quis.


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Muito bom poder escrever um texto sobre o mesmo assunto não só do meu poema brasileiro favorito, como também do tema de um bom filme nacional.

O Deathecator é um espaço de exploração e escrita. Considere deixar um comentário para que possamos continuar a discussão a partir das suas considerações e impressões. Certamente será algo do qual eu encontrarei bastante valor, e espero que você que está lendo sinta-se assim também.

FALOU!

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Mani Gavossi

 


Oi ***, tudo certinho? Então... A gente não se falou desde aquele dia e... Bom, queria saber como você tá. Cê tá bem? Como tá no projeto novo que cê ia fazer? Desculpa... É que você sabe como são as coisas né? Eu tava aqui do meu lado do universo tentando tocar a vida pra frente, fazer coisas novas, conhecer novas pessoas, me apaixonar de novo. Por quê não? Mas aí eu vi você na lista de pessoas que viam meus stories, e eu sentia muito a sua falta. Acho que nunca parei de sentir a sua falta, mesmo quando eu tava certo de que eu não queria mais te ver, nem falar com você. Nem ali eu deixei de sentir a sua falta. Cê se sente assim também? Eu tenho pensado muito no que eu to sentindo. Obviamente to muito cansado, né. Não são tempos fáceis pra ninguém. Ultimamente tem sido mais difícil e eu tenho buscado pensar no porquê. Acho que é porque sinto sua falta. Mesmo com tudo que a gente passou, eu era feliz ao seu lado e meio que sabia. Assim, acho que deixei você subir à cabeça também, entende? É meio idiota pensar que sem você eu não teria a coragem de te deixar, enfim... Eu tomei toda a coragem de te mandar esse áudio pra saber se você já tá com um outro alguém... Se sim, eu perguntaria como ele é -- mas sem a menor vontade de saber e com o coração completamente em pedaços. Se não, eu perguntaria se você gostaria de sair pra conversar comigo. Acho que não foi legal o jeito que a gente terminou as coisas e também acho que por mensagem a gente não passa tudo o que quer dizer. Mas ai também, isso seria justo com você? Eu sei que cê tem dado o seu melhor pra superar também. Será que eu voltar ia ser bom? Ou ia criar mais nóia na sua cabeça? Não quero isso pra você, também não quero que você se lembre de mim assim... Enfim, eu claramente to pensando mais em mim do que você e mesmo achando isso justo e digno, não acho correto te trazer pra confusão na qual eu me coloquei agora. Argh! Cê deve estar me achando um tanto quanto louquinha. Estaria, se eu eu apertasse o enviar. Adeus, nenen...


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Hoje eu não tava nem um pouco afim de escrever. Mas to fazendo o #100DaysOfWriting e não tem pra onde fugir, comecei a pensar no filme de quarentener da Moni Govassi e é isso. Foi bom ter conseguido me divertir.


FALOU!

domingo, 20 de junho de 2021

O Fantasma no Amor





Tenho visto fantasmas. Enquanto estou focado no trabalho, ouço um ranger de portas, e lá de dentro do barulho, ela sai. Pele branca e olhar frio como a neve. E com ela, todas as lembranças voltam. Tudo que vem junto dela. Todos as vezes que quase a beijei, todas as vezes que eu poderia jurar que ela queria ser beijada. Todos os beijos com gosto amarguinho de "até mais". Todos os abraços e passeios, todos os choros e segredos. Se ela estivesse aqui saberia do que estou falando.

O que ela não saberia é do quão grande é o tudo que vem junto dela. Com ela vem tudo que eu sei que ela espera de mim, e esperaria de quem eu poderia ser pra dar certo. Vem tudo que ela quer e eu não quero. Tudo que eu posso dar e que não serve pra ela. Vem tudo que eu estou disposto a dar por amor e justamente aquilo que não abro mão por ninguém também. Vem tudo de mim que ela tem. E tudo que agora é dela, mas que um dia já tive.

Tudo que eu abandonei.

E enquanto ignoro sua aparição, consigo notar seu olhar triste que assombra meus ombros. Olhar de quem se importa. Quem sente falta. E quase me deixo levar...



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Eu sinto fantasmas. Mas desse eu não falo pra ninguém. Vejo suas manifestações, mas nunca te vejo. Não sei se verei novamente. Falei de você antes, e é bem capaz que volte a falar novamente. Às vezes visito nossa antiga casa, dois quartos em Taguatinga Norte. Cara, eu adorava aquele apartamento. Simples, mas tudo de bom, né? Ainda passo por onde andávamos, claro... E você nunca tá presente, mas suas manifestações estão sempre ali. Aqui. Todo o futuro ao seu lado que, porra... Eu queria muito querer. Às vezes realmente acho que quero. Na quinta eu quase tive certeza. Vivo uma vida miserável, em que busco traumas passados imperfeitos, perfeitos e mais-que-perfeitos para me derrubar, mas ao seu lado tava tudo meio que bem. Porém, infelizmente, o dia fatídico veio, e ai você quis me matar, e eu não pude deixar. Já pensou que triste seria, amor? Matar quem se ama não é certo. E pra evitar isso deixei a gente morrer. Uma decisão acertada, ainda assim amargurada. Eu ainda sinto falta. Eu ainda sinto sua falta.


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Muito obrigado.

FALOU!


domingo, 13 de junho de 2021

Uma Garrafa de Tenência

 




O básico do minimalismo trandy que tem rolado desde 2010 e hoje percebe-se espalhado no mundo todo tem como princípio, ou processo, o ato de organizar-se materialmente através da eliminação dos itens que não são necessários ou não trazem valor para a vida da pessoa que faz esta organização. Em inglês, esse processo seria uma junção de duas ideias, a de decluttering e curation. 

E sim, aqui eu to dando uma definição de minimalismo fortemente embasada no Leo Babauta e nos caras do The Minimalists.

A ideia é trabalhar os conceitos de decluttering e curation nas coisas materiais da vida para que possamos entender e sentir melhor essas ideias e para que, em seguida, possamos aplicá-las nas coisas que realmente importam: nossa relação com nós mesmos, nossa vida profissional, acadêmica ou educacional, espiritual e também, 

nossa relação com os outros.

Esse é o ponto que quero trabalhar aqui. Quando comecei no minimalismo, eu realmente não tinha muita coisa. E o meu ponto sempre foi criar a partir disso, uma consciência de não ter demais -- Afinal, eu tava num ponto tão baixo na vida que as coisas só poderiam melhorar dali, então eu sabia que eventualmente teria condições de ter mais coisas. E, de fato, passei a ter mais. O que eventualmente se torna um problema, pois a tendência é de que percamos a mão das coisas que tentamos controlar na medida que mais coisas carregamos nas mãos, o que torna toda essa onda minimalista nada mais do que uma roupagem nova pra questões fundamentalmente humanas: Auto-reflexão e auto-avaliação; ou em outras palavras, refletir sobre o que é importante para nós e qual é a melhor estratégia para lidarmos com todas estas coisas em uma prioridade dada. E apesar de ter mencionado o momento da vida em que comecei no minimalismo, ainda não disse necessariamente como comecei e, pra ser sincero, não tem muito o que falar. Em resumo, precisei dizer não para muitas pessoas ou de outra forma eu teria morrido das mais diversas maneiras; e a partir disso, passei a eliminar da minha vida as coisas que me faziam sentir como quando eu estava com elas, assim como o que aparentemente me fortificava mas na verdade só me escondia e me impedia de lidar com a merda na minha frente. Desesperador, de certa forma, mas foi para que hoje eu pudesse me sentir melhor do que me sentia lá atrás. E nisso deu certo, estou de parabéns.

Quase

Infelizmente, acho que em algum ponto perdi a mão de tudo mesmo. Soltei demais, talvez até de coisas importantes, das quais eu devia ter segurado com mais força. Também soltei de menos, e não fiz coisas que deveriam ter sido feitas ou não disse coisas que deviam ter sido comunicadas... Não importa o motivo também, pois tudo que temos são as consequências das coisas que fazemos e as da que deixamos de fazer. Talvez ter dominado a arte de abrir mão das coisas me deixou um tanto vazio e desconectado de tudo. E ok, tem sido muito difícil viver enquanto brasileiro, mas e dai também, sabe? Eu realmente quero deixar uma porra de país dominar os aspectos mais privados da minha existência? Sinceramente acho que não!

E obviamente aqui só posso falar de mim, pois do fundo do meu coração, eu não sei como você que lê isso aqui se sente.

Mas, pra além do disclaimer, você deve ter se perguntado um pouco antes "ah mas se a arte de abrir mão das coisas tem como propósito algum tipo de realização, como você se diz mestre dessa arte sem realizar nada com ela?" E bom, tudo que eu tenho pra te responder é que cê tá certíssima. Não a domino, pelo menos não mais. Sem realização, qual é o propósito de tudo, não é mesmo??

E é exatamente isso que eu tenho me perguntado

Nada tem sido realmente ruim (dado a situação das coisas), mas ao mesmo tempo tudo tem sido ridiculamente insuportável! Você sente isso também ou sou só eu? Não deve ser só eu, pelo amor de Deus! Já me basta o excesso de advérbios, não quero outro traço ridículo de personalidade na minha conta. Mas como o artista que eu gosto de pensar que serei um dia, tenho um certo apreço pela insatisfação. Afinal, nada expressa melhor a estagnação na curva de aprendizagem do que aplicar todo seu conhecimento em algo e ainda assim nada dar certo. Infelizmente, é complicadíssimo tirar motivação deste momento, em específico. E enquanto ele não passa, as coisas vão permanecendo desamparadamente desesperadoras, absurdamente complicadas... Mas pro bem ou pro mal, fundamentalmente humanas.


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O Deathecator é um espaço de exploração e escrita. Considere deixar um comentário para que possamos continuar a discussão a partir das suas considerações e impressões. Certamente será algo do qual eu encontrarei bastante valor, e espero que você que está lendo sinta-se assim também.

Muito obrigado.

FALOU!


terça-feira, 4 de maio de 2021

O que é?




Nesses momentos, tudo que temos são lembranças, né? Começo com as que mais pareciam desagradáveis, tipo a sardinha frita que me era servida quando moleque, sempre à noite, na casa por fazer, deixando toda a situação mais tavernosa do que devia ser. Às tarde de domingo desperdiçadas durante às visitas semanais, vendo Gugu, só não mais longas do que às noites, vendo Faustão. Eu queria tanto voltar pra casa, bicho! Cês não fazem ideia...

Óbvio que eu não poderia me esquecer dos ovos de páscoa Top Milk -- que pelo teor do texto, serão descritos somente como INESQUECÍVEIS e INIGUALÁVEIS -- recebidos durante vários e vários anos, mesmo depois da gente aqui ter ficado mais grandinho. As várias idas e vindas de tudo quanto é lugar possível por conta de um pálio velho... engraçado que eu só lembro da volta do cemitério. Um outro dia terrível, mas que nos leva pra outras lembranças:


as boas


Como, por exemplo, as mais sutis. O carinho nunca mensurado e sempre constante, desde a sardinha e o ovo de páscoa, passando pela comida boa, chegando finalmente no interesse genuíno em saber como eu tava indo na faculdade ou se eu tinha um emprego. A confiança em me ter como motorista do pálio velho. O melhor cobertor dourado do mundo, que só deixa de me abraçar quando o cheiro fica insuportável, e um presente que estará comigo por vários e vários anos ainda -- sendo, no mínimo, o terceiro melhor presente que eu já ganhei na vida, mas certamente o que mais faz diferença nela hoje. --  Madrinha de quem eu mais devo tudo. É impossível passar pela vida sem arrependimentos,

sem erros,

mas o que acho impressionante é talvez sua maior qualidade; é ter preservado um espírito Divino quem sabe tão grande quanto de quem você o aprendeu. A força de agarrar à vida com tudo que tinha. A força de amar a prole acima de tudo que o mundo tem a oferecer. O amor que abraçou filhos que nem eram os seus. Que nem sua mãe fez a vida toda.

O que é? Morreu. O quanto foi destino, o quanto foi tragédia, o quanto foi negligência, o quanto foi assassinato? Beira o redundante dizer que só quem viveu isso sabe quando 400.000 famílias tão sabendo. Seus vizinhos sabem, seus colegas de trabalho sabem, seus clientes sabem, seus patrões sabem.

TODO MUNDO SABE,

mas eu talvez tenha me tornado um pouco mais radical quanto a tudo isso hoje. Sangue meu derramado por bosta, por um bosta, e vocês bostas marchando em prol de toda essa bosta. Dá raiva.

sábado, 1 de maio de 2021

Hoje sonhei que te perdia.


 


Hoje eu tive um sonho.

E nesse sonho, eu te perdia. Eu tava lá, você também, e você chama ele pra conversar. Sem muitas palavras, você diz "eu vou embora". Você estava do lado de onde eu fico, mas por algum motivo do lado esquerdo. "Eu quero ir embora", você falou pra ele. Ele busca entender o que estava acontecendo, "está difícil pra todo mundo mesmo..." -- ele comenta. Você responde, "eu só não aguento mais tomar no cu assim, sabe", enquanto dá aquela risada que poderia muito bem ser um grito de desespero, ou um choro angustiado. Eu vejo a movimentação de onde fico, vocês indo conversar em uma sala maior, mas por algum motivo ela e o corredor ficam do lado esquerdo agora, como se o que tinha ali pudesse sair do lugar. Em menos de cinco minutos, vejo você indo embora, como se eu pudesse ver você indo pra porta. Você já foi. Não olha pra trás, não busca me ver antes de partir, partindo meu coração na saída. Antes que eu pudesse processar, ele volta, estamos conversando agora. Me pede para remanejar meus documentos, dar um título à eles. Eu não entendi. Perguntei o que faríamos sem você, se você tinha ido embora mesmo. Ele disse que sim, e que teríamos que lidar com isso agora.


"It's there... and then it's gone". Eu nunca parei pra notar o quão fácil é pra você simplesmente ir embora. Pra ser sincero, nunca pensei que você iria partir, mesmo depois da fissura. Não sei o porquê, também. É natural querer ir embora de uma situação desagradável, né? E convenhamos, já tivemos dias melhores. Eu não soube fazer nada quando a gente tava bem, nem quando a gente ruiu, nem agora que a gente acabou... e eu não saberia o que fazer quando ce for embora. Não entendem como alguém brilhante pode estar feliz nadando em bosta, mas pra mim faz bastante sentido. O que não entendo é como você se contenta com isso também. Talvez a razão da minha esperança está ai. Como alguém que nunca uma vez na vida esteve satisfeita com algo pode aceitar o que eu aceito também? Que outros "eu aceito" conseguiria ouvir você falar, poderia te falar também? Delirante né?! Eu sei, mas se tem duas coisas que sempre fui, uma delas é sonhador.


A outra, é trágico.