domingo, 20 de outubro de 2013

O trânsito entre os mundos.



Do coração

As que transitam entre os mundos não conseguem ser bem sucedidas em nenhum. Por transitarem entre os mundos, quando a vida fica desconfortável, monótona em alguns casos, estas simplesmente vão embora. Mesmo assim, toda pessoa tem um lugar pra chamar de casa. Um lugar onde reconhece seu lugar no mundo. No caso dos indivíduos tratados aqui, nos mundos. No caso das que transitam entre os mundos, o problema é que o corpo pode estar num mundo, o coração no outro. A amargura de ser corpo sem coração, em que não se tem concretude sem sentimento; de ser coração sem corpo, onde se encontra notas, sorrisos, verbos, olhares que não podem ser. Isso é o necessário para que as pessoas do mundo vivam de forma alegre, usem o óculos verde. As que transitam entre os mundos, incapazes de ver tudo verde sem ter a dúvida de que existe azul no mundo, possuem a consciência de que nada é de uma coisa só para ser um, mas elas não podem ser um pois em cada mundo são um, que no final não conseguem se juntar.

Da mente

As que transitam entre os mundos não conseguem compactuar com nenhum. Multifacetadas como são, pensam o melhor das coisas com muito mais propriedade do que aquelas que, incapazes de transitarem entre os mundos, tentam cogitar. Essa dialética aponta para uma solução calcada e objetivando somente o real positivo. Mas é sabido - se tu não sabe por quem, ninguém liga - que as soluções para os problemas do mundo devem partir do próprio mundo. As que transitam entre os mundos não são de mundo algum. E se são, são de mais de um. Carregam mais de um mundo consigo. Estragam o acordo vigente e, avulsos às coisas dos mundos podem muito bem sair fora quando o seu intrometimento sair pela culatra. Quando não isso, quando decidem não interferir nas coisas dos mundos, conscientes de que, por serem capazes de transitar por aí, trazem consigo ideias impuras, caem no abismo verdadeiro. Estão largados na não-matéria, porém largados no vazio onde possui gravidade. Este vazio dotado de gravidade é proposital: ele serve para que as que transitam entre os mundos tenham ciência de sua queda e os forcem a querer voar, querer procurar um mundo com chão para parar a queda, para andar.

Do ser

As que transitam entre os mundos são, portanto, não aquelas que não conseguem se misturar. São capazes sim de fazer parte das coisas, interagir com os mais diversos mundos. Elas são as que não conseguem pertencer. As que, por fazerem parte dos mais diversos mundos, não conseguem tomar pra si um lugar só, que comparam sempre, porque veem demais. Estão demais nas realidades. De tanto pertencerem as coisas, não pertencem a nada. De tanto pertencerem aos outros, não pertencem a ninguém.