Hoje eu tava pensando sobre uma amiga minha. Sobre como a gente não deu muito certo, a angústia que me dá quando penso que ela já não quer mais ser minha amiga, que ela desistiu de mim, que eu desisti dela. Tava pensando no quão implacável sou, o quão justo é ser assim, o quanto me custa ser inflexível. Minha mente correu de um jeito que instintivamente comecei a dar voltas na única área livre que tenho no quarto -- cerca de 1m².
Tenho lido sobre meditação, tenho visto entrevistas sobre como fazer, o que é meditar, quais são os benefícios disso e ainda assim me vi tentado a burlar as regras. Tava crente que tinha meditado semana passada enquanto dirigia e ouvia Hello Peril. Agora sei que não foi bem assim.
Fechei as cortinas, liguei minha luminária contra a parede para dar aquele ar que a luz indireta proporciona, sabe?? -- Quem curte decoração no Pinterest tá ligado, já! -- e então sentei na minha cadeira. Um minuto é o suficiente, depois eu posso aprender a ficar mais tempo aqui. Sentei na cadeira, mas relaxei demais e não achei ser o correto. Não parecia ser o que o vídeo sobre como meditar me ensinou. Arrumei a cama, encostei minhas costas o mais retas possível na parede e comecei.
Foco na respiração.
Não dava dando muito certo, passei a pensar sobre essa amiga. O quanto a gente nunca mais falou de nada que era nosso. O quanto ela se divertia com todo mundo que a gente conhecia, mas comigo era diferente. Há quanto tempo a gente já não era amigo? Custava avisar? Voltei pra respiração, pois está tudo bem ser fisgado pelos pensamentos,
o importante é voltar.
Me arrumei, minhas mãos estavam em uma posição um pouco desconfortável e é importante estar confortável e bem posicionado porque você pode gastar um tempo ali. Acho que já tinha passado de um minuto aqui nesse ponto. Comecei a pensar sobre o dia que dirigi ouvindo Hello Peril, realmente as duas experiências pareciam a mesma coisa, tenho mais um tipo de meditação no meu arsenal de dois tipos de meditação. Voltei a prestar atenção à minha respiração.
E quase desistir. Toda essa situação com a minha amiga não parecia sair da minha cabeça. E fiquem tranquilos que isso não é nenhum tipo de exposição pra ela, se nem quem curte me ler tá lendo, imagina quem dá de mal comigo?! haha
Além do mais, esse aqui é o meu domínio.
E ela não saia da minha cabeça. Será se eu precisava ser tão duro assim? Eu lembro corretamente do que foi que levou a gente a se distanciar? Por que a gente não volta a se falar? Porra, ela é tão importante pra mim, eu devia pedir desculpas, ver se a gente volta a se falar. Mas eu não tava lembrando errado, o que aconteceu de fato aconteceu. E imediatamente passei a me sentir inquieto. Não era pra ser assim, o Sam Harris me prometeu que não seria assim! Algo estava errado. Relembrei do que me foi ensinado, do método que escolhi pra mim -- que é o "esquece isso de mindfulness, foca na sua postura e na sua respiração". -- Me arrumei novamente e não só capturei o ar ao meu redor como também puxei tudo que tava na minha cabeça pra dentro do meu pulmão.
E foi aí que tudo mudou.
Minha cabeça inteira esvaziou e pude experimentar um silêncio que nunca havia experimentado antes. As motos passavam na rua, os vizinhos faziam barulho, meus pais riam da nova comédia brasileira lançada nos streamings... mas eu tava protegido. Não pude ver, pois estava de olhos fechados -- e também não sei se é assim que vejo essas coisas também, but i digress...-- porém sinto como se ao meu redor houvesse uma camada de silêncio, um vácuo que impedia o som de se propagar no ar, me protegendo de todo ruído -- não só do ruído fora de mim, mas do ruído dentro de mim também, todos os "e se" que me fazem ser tão engraçado, criativo e lamentoso também.-- E não sei muito bem como dizer isso, mas foi quase como gozar calminho. Me sinto muito bem agora. E mal posso esperar pela próxima vez e só sentar num lugar legal, focar na minha respiração, na minha postura, e no silêncio e calma que isso traz.
FALOU!
@koiparadox