domingo, 13 de junho de 2021

Uma Garrafa de Tenência

 




O básico do minimalismo trandy que tem rolado desde 2010 e hoje percebe-se espalhado no mundo todo tem como princípio, ou processo, o ato de organizar-se materialmente através da eliminação dos itens que não são necessários ou não trazem valor para a vida da pessoa que faz esta organização. Em inglês, esse processo seria uma junção de duas ideias, a de decluttering e curation. 

E sim, aqui eu to dando uma definição de minimalismo fortemente embasada no Leo Babauta e nos caras do The Minimalists.

A ideia é trabalhar os conceitos de decluttering e curation nas coisas materiais da vida para que possamos entender e sentir melhor essas ideias e para que, em seguida, possamos aplicá-las nas coisas que realmente importam: nossa relação com nós mesmos, nossa vida profissional, acadêmica ou educacional, espiritual e também, 

nossa relação com os outros.

Esse é o ponto que quero trabalhar aqui. Quando comecei no minimalismo, eu realmente não tinha muita coisa. E o meu ponto sempre foi criar a partir disso, uma consciência de não ter demais -- Afinal, eu tava num ponto tão baixo na vida que as coisas só poderiam melhorar dali, então eu sabia que eventualmente teria condições de ter mais coisas. E, de fato, passei a ter mais. O que eventualmente se torna um problema, pois a tendência é de que percamos a mão das coisas que tentamos controlar na medida que mais coisas carregamos nas mãos, o que torna toda essa onda minimalista nada mais do que uma roupagem nova pra questões fundamentalmente humanas: Auto-reflexão e auto-avaliação; ou em outras palavras, refletir sobre o que é importante para nós e qual é a melhor estratégia para lidarmos com todas estas coisas em uma prioridade dada. E apesar de ter mencionado o momento da vida em que comecei no minimalismo, ainda não disse necessariamente como comecei e, pra ser sincero, não tem muito o que falar. Em resumo, precisei dizer não para muitas pessoas ou de outra forma eu teria morrido das mais diversas maneiras; e a partir disso, passei a eliminar da minha vida as coisas que me faziam sentir como quando eu estava com elas, assim como o que aparentemente me fortificava mas na verdade só me escondia e me impedia de lidar com a merda na minha frente. Desesperador, de certa forma, mas foi para que hoje eu pudesse me sentir melhor do que me sentia lá atrás. E nisso deu certo, estou de parabéns.

Quase

Infelizmente, acho que em algum ponto perdi a mão de tudo mesmo. Soltei demais, talvez até de coisas importantes, das quais eu devia ter segurado com mais força. Também soltei de menos, e não fiz coisas que deveriam ter sido feitas ou não disse coisas que deviam ter sido comunicadas... Não importa o motivo também, pois tudo que temos são as consequências das coisas que fazemos e as da que deixamos de fazer. Talvez ter dominado a arte de abrir mão das coisas me deixou um tanto vazio e desconectado de tudo. E ok, tem sido muito difícil viver enquanto brasileiro, mas e dai também, sabe? Eu realmente quero deixar uma porra de país dominar os aspectos mais privados da minha existência? Sinceramente acho que não!

E obviamente aqui só posso falar de mim, pois do fundo do meu coração, eu não sei como você que lê isso aqui se sente.

Mas, pra além do disclaimer, você deve ter se perguntado um pouco antes "ah mas se a arte de abrir mão das coisas tem como propósito algum tipo de realização, como você se diz mestre dessa arte sem realizar nada com ela?" E bom, tudo que eu tenho pra te responder é que cê tá certíssima. Não a domino, pelo menos não mais. Sem realização, qual é o propósito de tudo, não é mesmo??

E é exatamente isso que eu tenho me perguntado

Nada tem sido realmente ruim (dado a situação das coisas), mas ao mesmo tempo tudo tem sido ridiculamente insuportável! Você sente isso também ou sou só eu? Não deve ser só eu, pelo amor de Deus! Já me basta o excesso de advérbios, não quero outro traço ridículo de personalidade na minha conta. Mas como o artista que eu gosto de pensar que serei um dia, tenho um certo apreço pela insatisfação. Afinal, nada expressa melhor a estagnação na curva de aprendizagem do que aplicar todo seu conhecimento em algo e ainda assim nada dar certo. Infelizmente, é complicadíssimo tirar motivação deste momento, em específico. E enquanto ele não passa, as coisas vão permanecendo desamparadamente desesperadoras, absurdamente complicadas... Mas pro bem ou pro mal, fundamentalmente humanas.


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O Deathecator é um espaço de exploração e escrita. Considere deixar um comentário para que possamos continuar a discussão a partir das suas considerações e impressões. Certamente será algo do qual eu encontrarei bastante valor, e espero que você que está lendo sinta-se assim também.

Muito obrigado.

FALOU!