domingo, 22 de maio de 2022

Você Sabia??





link para o texto em áudio: https://open.spotify.com/episode/2t5oy4xsOpjywGBNBNsiMA?si=16e98a4b68eb4f1d

- 1 -   


Ontem descobri que não estou sozinho. E foi através de uma dessas pessoas famosas da internet, que claramente não sabe que eu existo, mas que passa a mesma coisa que eu. Talvez até de forma mais intensificada, pois dessas coisas pra mulher é sempre pior. Olha só, quem diria, 

o running alone

olhando pro lado e encontrando alguém. Que loucura! Acho que por isso que ainda insisto em textos ridiculamente pessoais aqui, vai que ajuda alguém. Já recebi muitos relatos de gente que curte, que tira algo daqui. Muito hate também, mas não poderia ser diferente né? Como sou uma pessoa de convicção,

a violência é inevitável.

- 2 -

    Não quero ser um peso pros meus amigos, pra minha família, principalmente nessas coisas. Tá todo mundo passando por uma barra né, então busco guardar minhas derrotas e vitórias nesse sentido. Mas a vida tem seguido. Eu tenho mudado. Eu sofri um acidente de moto e precisei sair do mundo, e quando voltei você foi embora e isso acabou comigo. Já te disse isso. O que eu não te disse é que eu prometi mudar completamente pra melhor. Me tornar o uma outra coisa, melhor, pra poder ser digno de falar de você pros outros, tanto que quando as pessoas relembram com saudade o seu nome, minha boca se cala. Não mudei o suficiente. Você me disse que a gente ia conversar no futuro mas sei que essa conversa nunca mais vai acontecer. Toda semana eu sonho com esse reencontro, e mesmo nos meus sonhos não me permito me reencontrar contigo, pois sei que preciso mudar muito ainda. E quando meus pensamentos me traem e nos reencontramos, é exatamente como eu sonho que seja. Muita mágoa, muita raiva, muitas lágrimas, mas no fim nossas mãos estão dadas. Cê sempre soube de onde eu venho, eu sempre soube de onde cê vem. E de repente estamos voltando pra casa, no seu carro velho, eu te ouvindo cantar. Tudo que é verde sendo verde, o azul sendo azul, o amarelo sendo amarelo, o cinza sendo cinza. A gente estando onde tem que estar, tudo no seu lugar. 
    Mas então eu acordo. O vermelho da luminária tá preto, o amarelo da cadeira tá preto, meu cobertor dourado tá preto. E o que é claro tá cinza. Você não tá lá.

Nunca esteve.

E então vida que segue. Percebo que foi um ruído, e então olho para o que tenho. A manutenção da vida, a busca por propósito. Correndo sozinho. Se eu vejo tudo isso como um erro, terrível, me perco. Isso tudo é a minha verdade, e é aqui que tenho de estar.

- 3 -

    Acho que finalmente entendi como que se escreve do jeito que tenho escrito nos últimos 12 anos. Demorou né? Mas em contrapartida, devo lembrá-los que não sou o cara mais esperto. Muito pelo contrário, estou muito mais pareado com o cara mais burro, um passo à frente somente por reconhecer isto. As pessoas adoraram o Órbita, e viram todos os meus acertos. Mas ninguém viu o quão feio foi o erro que cometi ali. Não sou eu quem dá a palavra final. Nem ninguém. Não posso fazer como fiz no Órbita, onde expus os fatos, os dados, dei os atores e a história como categoria científica. É errado da minha parte achar que posso dizer como algo aconteceu. Só quero transpor o que penso e sinto sobre as coisas que vivo, me curar das dores que me afligem a alma e, se me puder ser concedida tal generosidade, destruir tudo e todos que entram em contato com isso no processo. Mas no bom sentido. Preciso destruir todos vocês porque de nada adianta cês lerem o que eu ponho aqui se cês tão lendo ai de cima. Desce aqui, sente no peito o quanto a vida é terrível, e aí cê vai sacar o que quero dizer.

FALOU!!

sábado, 2 de abril de 2022

Rid'Along




    Um homem sozinho se espanta ao comtemplar um conhecido lhe acompanhando em seu lugar de solidão.

-- Ué, você aqui?

-- Sim... Acabei voltando.

-- Mas como assim, o que houve?

-- Uai, bicho! O óbvio né?!

-- Claro, perdão... Eu não queria também ser insensível contigo.

-- Tranquilo. Eu entendo.

-- Mas assim, na moral, eu realmente achei que você demoraria pra voltar dessa vez.

-- Ah, cara. Eu também achei. Mas tu já viu The Mentalist? "It's there... And then it's gone" - foi desse jeito que acabou e eu voltei.

-- Porra, que merda, hein? E como você está com tudo isso? Mal, eu imagino.

-- Pô bicho chorei pra caralho, aquele choro de luto, manja? Tô estranho até agora, minha família, meus amigos veem isso, mas ninguém sabe ao certo o que fazer, o que perguntar. Nunca ouvi tanto "você tá bem?" quanto agora essa seman... Quer dizer, fora agosto do ano passado, né? Quando ela infelizmente se foi...

-- De fato foram tempos difíceis.

-- Ainda são.

-- Sério? Achei que tivesse finalmente chegado na Aceitação.

-- Cheguei, chegar lá cheguei. Mas aceitar é uma coisa. Sentir é outra. Aceitar é a parte mais fácil de tudo, na verdade. Ainda mais nesse tipo de partida, afinal, quando ela resolveu partir eu... Eu... Porra, meu mundo acabou naquele dia. Aprendi horrores, sobre a vida, sobre mim, sobre o amor, sobre sofrimento.

-- Cê chegou a morrer também?

-- Cara, não. Dessa vez não. Mas eu virei meu vô por um tempo, e perdi o rumo da vida, Caí num marasmo fodido, o mundo acabando, todos nós ouriços buscando resguardar os que amamos de se machucarem...

-- Ah, mas também acho que cê só morre uma vez né?? Tipo, ou tu morre ou tu vive pra sempre depois de morrer.

-- Hm.. Bicho, não sei. Acho que dá pra morrer mais vezes, sabe? Por exemplo, quando um filho morre, você morre também né? Já vi gente morrendo mais de uma vez. Mãe morreu pelo menos umas três vezes já. Mas pai, que eu me lembre, só foi uma mesmo.

-- E como é que eles estão? Tudo bem?

-- Tão bem. Acabaram de refazer a cozinha.

--Ah legal.

-- E você, bicho. Eu sei que eu sou a novidade aqui, mas e você? Como tem passado, o que tem feito?

-- Ah, cara, acho que vai ser menos sozinho agora né, com você aqui. E no mais, acho que bom, nada mudou. Aqui era do jeitinho que você tá vendo. Só o vazio e eu. O catálogo da Netflix é horrível, né, então acaba que eu acabo ficando comigo mesmo. Às vezes, toco um City Pop e danço com ela, quando ela aparece. Levíssima né.

-- É.

-- É! Então a gente acaba dançando bastante.

-- É bom quando a gente se mexe um pouco, usa o corpo pra pensar também, né?

-- Sim, e com ela é perfeito porque eu consigo espairecer totalmente. Se fosse com outra pessoa...

-- Per Deos Obsecro...

-- Per Deos Obsecro...!

Ambos riem.

-- Mas e agora, cara, que cê vai fazer da vida? Vai ficar aqui? O que houve que você veio pra cá dessa vez?

-- Bicho, não sei se fico. Eu tinha conseguido sair né? Precisava reparar o que fiz ano passado. Acabou que por algum motivo fui perdoado. Ai fui lá pra fora. Indo na calma, sem exigir demais, sendo o cara que eu queria ser. Gosto de ser. O que eu não fui pra...

-- De boa, eu sei.

-- Mas aí, bicho. Eu estiquei a mão pra ela, sabe? "Vem! Fica comigo!" - Eu disse.

-- E ela?

-- Foi embora e eu caí aqui de novo.

-- Porra, pelo menos cê sabe o porquê?

-- Sei.

-- ... E?

--... -- Após um certo tempo. -- Deixa quieto, bicho.

-- Foi ruim assim?

-- Foi.

-- Mas, cara, não entendo. Eu te conheço, ent...

-- Então cê sabe o que eu perdi.

-- Tá. É verdade.

-- Uma vida inteira morreu ali, bicho. Não tem como não sentir isso.

-- Não tenho nem o que dizer, cara.

-- Tudo bem. Só de cê vir conversar comigo já me ajudou horrores. Obrigado.

-- Tamo junto!

--  Também, pra isso "não tem jeito", né?


Ambos riem novamente.

terça-feira, 1 de março de 2022

O Gênio Do Ska


     


Nessa ******, ****** não nos busca contar uma história específica como em outras *******, como ****** e ******, em que temos personagens principais, alguma espécie de narrativa -- ainda que vaga -- que obedece a costumeira estrutura dos 3 atos. Em ***, ******* escreve um tipo de sermão para uma mulher, aparentemente. Ela parece estar passando por problemas amorosos, mas não sabemos ao certo se é com seu namorado ou só alguém que ela gosta. De acordo com a *****, a moça para quem é dirigida a bronca está completamente imersa numa mentalidade típica de protagonistas das comédias românticas adolescentes, tendo toda a sua atenção e esforços voltados para um amor, mas não um amor saudável, real. Ao que tudo indica, sua angústia provém do sentimento desconexo próprio da dialética entre o que ela tem -- que, segundo a ******, é simples e pura solidão -- e o que ela acha que devia ter:, uma paixão ardente e eletrizante de cinema. A ****** faz essa relação entre realidade e filmes constantemente para deixar claro a dicotomia exposta acima e segue, quase sempre, num tom de deboche, tratando, de certa forma, a garota como uma completa idiota.

    Na primeira estrofe, temos o narrador -- no caso, o cantor ******* ***** -- começando seu sermão, em tom de chacota, perguntando se ela não entendeu que a vida é diferente do que se passa na TV, se ela não sabia que na vida ninguém vai magicamente socorrê-la em um momento de sufoco emocional como este que ela está passando.

    Ele segue satirizando a pessoa para quem ele direciona o sermão, ao pintar a imagem desta mocinha absorta na vista da própria janela, alheia à percepção dos próprios erros cometidos enquanto sofre copiosamente no próprio drama romântico a ponto de parecer que vai morrer disso.

    O refrão, assim como as duas primeiras estrofes, é bem simples mas comunica uma mensagem forte. O narrador retoricamente questiona se faz diferença o salvador da menina aparecer, como se dizendo que não importa ela conseguir o que quer ou não, pois isso não vai acabar com o problema. Parafraseando: "O problema não é o que aconteceu ou acontecer com você. Mas você. E só você. É só isso que tenho a dizer."

    As próximas duas estrofes seguem com a mesma mensagem que seguiam as duas primeiras. A terceira estrofe, quase um reflexo perfeito da primeira, segue com a mesma pergunta, mas ressalta uma tragédia maior ao pontuar que não sobrou nenhum sonho para a mocinha e que todos, menos ela, percebem seu estado delirante. A quarta estrofe segue um reflexo exato da segunda estrofe, assim como o refrão, que se repete idêntico.

    Como vocês devem ter notado, o título da ****** -- *** -- não tem nada a ver com  conteúdo da ***** ou mensagem desta. Embora não explícito na *******, é razoável supor que o nome vem do estilo musical no qual a ****** pode ser enquadrado. Ainda que tenha clara referência em bandas como The Police, segue um pouco atrás, cronologicamente, das terceira e pós-terceira onda do ***, dado ao ano de seu lançamento, 6 anos antes do grande boom destas ondas nos anos 1990.

domingo, 14 de novembro de 2021

Bem Calminho E Desesperador


 


Estou na espera de algo acontecer.

Paciência é uma virtude e aquele que à tem desfruta paz em sua vida. As coisas demoram tempo para acontecer, as pessoas precisam de tempo para mudar e as próprias mudanças precisam de tempo para ficar. O passo do mundo é muito rápido e nisso acabamos por não notar o verde das árvores, a permanência do que lá já está e uma mudança de perspectiva se mostra necessária para a reconquista da paciência, visto que o tempo, por sua vez, é tangido pela percepção. Estou na espera de que algo vai acontecer, mas enquanto ele não acontece, é na paciência que encontro a paz para apreciar a permanência das coisas antes do ponto de mudança. E é nela também que encontro abrigo quando mudar é o único caminho.


Mas eu tenho sede.


Eu tenho sede de tudo. E eu to morrendo de sede. Na pegada Earn "Eu preciso comer hoje, não em setembro", sabe? Então essas entidades, a paciência -- expressão da minha consciência e mesura -- e a sede -- o Ímpeto por aquilo que vai me saciar -- se chocam e nesse constante embate nascem não só o desespero frente a insoludibilidade do combate -- este fruto da sede -- mas também é criada a calma frente a constatação de que a prudência costuma ser o melhor caminho -- esta, por sua vez, fruto da paciência.


Obviamente há de se pensar que, até por nossas experiências pessoais, eventualmente uma vence sobre a outra numa batalha para que eventualmente perca na próxima. É somente humano, natural. É assim que encontramos o equilíbrio em nossas vidas, aprendendo com as vitórias do desespero e da calma. Mas então lhes trago uma nova situação, um novo equilíbrio. Paciência e Sede não lutam mais. Seus frutos, Desespero e Calma largam suas armas e todos passam a somente existir no mesmo espaço, em paz. Não existe mais conflito, não existe mais o embate, e todas as forças opostas dividem o espaço do seu coração, eliminando assim qualquer expertise e experiência que possam te ajudar a se resolver. E tudo que te sobra é um pouquinho de bom senso e muita improvisação daqui pra frente. Todos juntos tomando um brunch no âmago da sua alma enquanto você segue o jogo, no ponto de surtar e perder tudo mas por algum motivo completamente em paz consigo mesmo, fazendo com que o mundo todo se torne exatamente assim:

bem calminho e desesperador.

Falou!

sábado, 30 de outubro de 2021

Você Acredita em Mágica?


    


 Todos nós acreditamos em algo. Deuses, o Axé, o universo -- todos estes e muitos outros são objetos de nossas súplicas e graça. Não sou um cara muito religioso ou espirituoso, mais pela ignorância do que saber com certeza de que sou ou não sou algo. Mas não me iludo, não existe não crer. Todos nós cremos em algo e vivemos em prol dessa crença.

Uma das coisas em que acredito é em magia.

    Ok, podem rir. Até porque com certeza estamos falando de coisas diferentes. Quando falo em mágica, na cabeça de todos nós, minha inclusive, vem Harry Potter, vem Gandalf, ou sei lá o que é mágico na cabeça das pessoas hoje em dia. Quando digo que acredito em magia, tomo um conceito muito mais antigo e até mesmo broxante pra quem se encanta com a expectativa de se aprender uma nova teoria da magia. Sou fã de um velho barbudo, morador da Jerusalém do condado de Northamptonshire, Northampton. Ele mesmo, O Escritor Original:

Alan Moore.

    Alan Moore, ao contrário de mim, acredita na e pratica a magia. Fez disso seu ofício e é um dos magos mais poderosos da atualidade. Como ele relata em seu The Mindscape of Alan Moore: "Magia, em sua forma primordial, era de costume referenciada como A arte. Acredito que isso é completamente literal; que magia é arte e que arte, não importa a forma que tome, é magia. Arte é, como a magia, a ciência de manipular símbolos, palavras e imagens para alcançar mudanças de percepção, de consciência." Ele segue explicando: "Um grimório é só um jeito chique de falar gramática. Na verdade, conjurar um feitiço é somente manipular palavras para alterar a consciência das pessoas. Um artista, ou escritor, é a coisa mais próxima que temos no mundo contemporâneo de um xamã."

    O que Moore quer dizer com essa ideia de magia é que as palavras tem poder. E me diz se isso não faz o maior sentido? Um discurso que te inspira a seguir em frente com muito mais ânimo nada mais é do que um encantamento de força de vontade. Essa caralhada de fake news nada mais é do que uma conjuração de área para prender o povo numa ilusão. Palavras carregam muito mais poder do que podemos imaginar a princípio.

E é por isso que eu levo as palavras muito a sério.

    Pode ser alguma disfunção psicossocial também, nunca saberemos sem investigar. Mas desde que passei a acreditar em magia, minha relação com a palavra dita mudou completamente. Quando digo uma coisa, não importa o que foi dito, pra mim, em um nível espiritual, uma magia foi conjurada. E tenho vivido assim desde então. Infelizmente ou não, acabo transferindo isso para as pessoas ao meu redor também. Palavras são ditas à alguém. Com quem você tá falando? O que você tá dizendo? Palavras são ditas com intenção. Qual será a intenção, então? Convido ao leitor que reflita: você pensa nas palavras que você diz? Nas magias que constantemente conjura? Ou você está somente soltando bolas de fogo a torto e a direito como se a palavra não fosse um artifício feito para ser lido? Como se um feitiço não fosse uma ação que parte do mago para seu alvo? Palavras são poderosíssimas e são capazes de mudar o mundo.

São capazes de mudar você.

        Palavras são magias, encantamentos, feitiços que mudam e distorcem o que as pessoas percebem, pensam, esperam. Desde então tenho levado palavras muito a sério. E é claro que não é sempre que sigo isso. Mas sigo cada vez mais. E nessa crença, acho o propósito que busco para continuar em frente. Realmente não estava esperando que este texto fosse uma chamada para a consciência, para o momento presente. Mas agora ele meio que é, né? Eu mesmo queria que este texto fosse uma bola de fogo, como o ser de vingança que meu ímpeto gosta de ser. Mas da mesma forma que existem palavras que precisam ser ditas

Há também feitiços que não valem a pena encantar.


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Mais uma vez agradeço por terem lido até aqui por favor comentem, se quiserem. FALOU!


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Sobre As Situações Onde Todos Perdem


    



    Se você, assim como eu, tem um interesse particular em resoluções de conflitos, já deve ter ouvido -- provavelmente devido às séries norte-americanas que constantemente usam deste artifício para plots de sitcoms -- das famosas "win-win situations", ou situações em que todos ganham. Obviamente, ela busca solucionar uma questão de forma em que todos recebam algo positivo ou favorável. Assim como Carole Pateman se utilizou d'O Contrato Social para desenvolver a brilhante ideia d'O Contrato Sexual, venho com uma versão mais pobre e nada original da ideia propor uma conversa sobre as "lose-lose situations", ou as situações onde todos perdem.


    Como exatamente elas funcionam: É simples, ninguém ganha.

Humor.

    Para elucidar melhor, uma situação: Imagine que você está chateado com um amigo, ele anda distante, você sente falta dele, ele não parece ter tempo para você. Talvez o seu bom julgamento o diga para conversar com ele, mesmo que vocês não possam se encontrar. Talvez compartilhar um meme ou post, quem sabe entender um pouco da vida dele antes de dizer o que você gostaria que ele soubesse. Aqui temos bons fundamentos para as situações que alguém ganha, pelo menos.

Mas não são dessas situações que estamos falando aqui, você tem vários youtubers para isso.

    Estamos aqui para as situações em que todos perdem. Você não gosta de se sentir negligenciado pelo seu amigo, não busca conversar com ele por se sentir desgostoso com a situação toda. Também escolhe não desabafar com alguém, ou trazer a discussão para uma terapia -- é ótimo trabalhar questões que temos com as pessoas na terapia, sabia? -- ou até para alguém que você pode contar nessas horas para te aconselhar. Você não está pensando muito bem nas consequências, afinal, seu julgamento está nublado pela raiva que você sente. Cê escolhe explodir na internet, com indiretinha no Instagram, Twitter, TikTok, sei lá. Seu amigo, embora distante de você, fareja quando o assunto é com ele rapidinho, e não gostou de tomar um sucker punch enquanto lê uns tweets na pausa para o café. O que pode ser ele desabafando sobre outra amizade, um crush ou trabalho passa a ser sobre você, que já tá virado de ódio. Você, do alto do seu cavalo, dono da razão, começa a tratar mal seu amigo, e já não sabe mais quais são as reais intenções de cada ação ou reação dele, silencia, bloqueia, responde mal, ele percebe tudo. Ele também já começa a não fazer questão da sua amizade e reage de forma fria à assuntos que tangem vocês. Eventualmente vocês conversam, expõem suas dores, ninguém se entende e uma amizade morre. Da pior forma ainda, pois morreu de morte matada. Você matou sua amizade com seu amigo, ele matou a amizade que tinha com você e o pior de tudo, como vocês nunca chegaram de fato a conversar sobre os atritos que levaram a relação a se desgastar, ambos abertos, com empatia numa mão e perdão na outra, uma amizade morreu por nada. E todo mundo envolvido aqui perdeu.

    Não me leve a mal, as coisas precisam morrer. Mas as pessoas não precisam perder com a morte (a não ser a vida, né? #humor), muito menos morrerem depois das coisas. Situações em que todos perdem são frustrantes por não levarem a lugar nenhum. São um esforço direcionado à um monolito que nunca moverá. Mas, como esperado, existe uma opção, acredito eu, para as situações em que todos perdem. Uma solução bem simples, eu diria, que seria a tomada de consciência. Acredito que para situações como essa é importante que tomemos plena consciência da situação, pois uma área que não costumo muito ver sendo discutida é o quanto se perde nas situações em que todos perdem. Às vezes, a perda entre as partes pode ser desigual. Você pode estar ai pegando o seu tempo valioso, tudo que você de fato tem no mundo, e tomar ações completamente estúpidas com ele de forma a fazer com as outras pessoas com quem você interage também percam. Mas será se elas estão perdendo tanto quanto você? Será se o dispêndio do seu lado tá menor? Será se as partes que perdem junto com você estão perdendo da forma que você esperava? Ou elas lidam melhor com isso do que você? Será que a satisfação que você tem com a sua ação é duradoura ou -- ainda melhor -- construtiva?

Você tem certeza que só não tá perdendo o seu tempo?

    O amargo das situações em que todos perdem é que tanto as nossas ações quanto as consequências delas saem pela culatra. Quando você busca ferir -- ainda que inconscientemente -- alguém, você acaba se ferindo. Ao buscar chatear ao outro, você acaba mostrando o quão chateado você está. Uso minha experiência mesmo, pois nela vejo cada esforço mal direcionado partir do ator como bumerangue somente para retornar na cara de quem o lançou pra frente. E de tanto ser o agente principal quanto secundário das situações em que todos perdem, acabo as percebendo com certa facilidade. Com certo carinho, também. É somente estatístico dizer que todos participaremos em situações onde todos perdem eventualmente. O quanto perderemos já é um âmbito mais cinza para previsões. Mas ninguém tem culpa de estar numa situação dessas, pelo menos na medida em que por ventura caímos nelas, visto que somos seres emocionais, fadados à cair em tentação. Para você que engajou, se meteu ou foi metido numa situação em que todos perderam uma vez ou outra, no mínimo você é um aprendiz, no máximo um azarado. Com método e prática tudo se resolve. Agora, se você ativamente engaja em situações em que todos perdem, é crucial que você seja não só sua própria ruína mas principalmente a ruína de quem perde com você, porque se você tá perdendo cada vez mais e as outras partes perdendo cada vez menos, a lose-lose situação se descaracteriza, e no fim do dia

Você é só um perdedor fodido.

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Obrigado por ler até aqui. Não esqueça de comentar.

domingo, 24 de outubro de 2021

Era de Movon



    

    Já era tarde do sábado, quase virando a zero hora, quando recebi a notícia que você havia saído de vez da minha casa. Era esperado, claro. Mas sei lá, mesmo sabendo o que você quis dizer, assim como Herbet, acho que não quis escutar. Na minha cabeça o que eu queria ter ouvido era melhor, sabe? E uma vez liberto pela confissão, o que me abalava se tornou somente luz que refletia ao tocar na minha pele.

    Infelizmente, a luz refletida também me cegou para a realidade brutal de que o que me abalava te dominou também. Talvez até mais, não sei. E não saber faz nascente das esmeraldas, da nascente surge um rio, e deste rio, cachoeira. Uma cachoeira de rancor que flui forte como se fosse ancestral, pois a dor deste parto é tão ancestral quanto a primeira tragédia do mundo, dado que você caiu pelas mãos de seu igual.

    Não importa os motivos, realmente achei que poderia nos consertar se Deus me concedesse perdão. Ele de bom grado o fez, visto que seu Senhor é justo. Mas o fez somente para me mostrar que não é só de perdão que se melhora o mundo. Tem muito querer envolvido, muita confiança e, obviamente, pouquíssimo tempo. O seu tempo acabou, e por conseguinte o meu também. É preciso saber muito para melhorar, e enquanto cruzo essa ave de argila branca que nós chamamos de pátria, percebo que de você não sei mais nada. Dizem que

A esperança é a última que te mata,

E agora que você saiu, acho justo tomar uma posição ativa para que me torne aquilo que prometi ser no reencontro. Mas por mim, não por você. Se um dia voltar, deixo esta carta aqui para que possa encontrá-la. E a partir de então me torno a esperança do que eu esperava de nós, pois se o inimigo do meu inimigo é meu amigo, a esperança da minha esperança é sua assassina.

E parti.

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Falou!

domingo, 17 de outubro de 2021

Um Retrato da Tristeza.

   



 Tem hora que não consigo me conter. E então ataco. E vou atrás. Digo tudo que quero dizer, afinal sou tão melhor que você. Jogo mais gasolina no fogo. E me fodo por sentir frio depois. Vou lá e jogo mais. Da minha cobertura observo todo o movimento e os erros que você comete, pedestre e descoberto na chuva da desgraça. Fracassado. Fodido. Seu bosta. Sou juiz e você só mais um condenado que nem merece meu julgamento.
    
    Quer dizer, mal merece meu julgamento.
    
    É como se você estivesse pedindo pra tomar na cara. Você tá tão exposto que é impossível eu não te aplicar meu parecer, minha punição. Meu julgamento é absoluto. E então você se torna aquilo que julgo. Tudo. Não importa o quê, você não precisa saber de onde vem, pois você é só um alvo. Eu sou o acusador, o juiz e o algoz. E não tem nada mais importante pra mim do que deixar bem claro o que eu penso de você, pois alguém merece te colocar no seu lugar. E esse alguém sou eu. E eu vou até o fim com isso, pois não vou abrir mão de chutar cachorro morto, seu vira-lata maldito. Sua falsa coragem não vai te salvar da minha obliteração. Não vou abrir mão. Não posso abrir mão. Pois me apegar ao total desprezo e asco que eu tenho pela pequenez que é a sua existência podre até você quebrar é o que me faz seguir em frente.


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Falou!

terça-feira, 12 de outubro de 2021

3 Paradas Que Aprendi Com A Escrita Terapêutica




    A escrita terapêutica é simplesmente a prática de escrever deliberadamente por alguns minutos, podem ser 10, 20, 30... bicho tem gente que vai 1h escrevendo sem parar. O que se escreve é muito simples:

tanto faz.

    Pode ser o que aconteceu no dia anterior, o que você espera pra hoje ou pra amanhã. Como você se sente sobre determinado assunto -- família, relacionamentos, amizades, trabalho, futuro-- ou qualquer outra coisa que vier na sua cabeça, pois a meta aqui é justamente escrever sem qualquer julgamento, contanto que você escreva sobre algo. Com base na literatura, na psicologia e na minha própria experiência nessa prática, vou descrever 3 coisas que aprendi com a escrita terapêutica. Mas que experiência é essa? Eu te conto

     Da primeira vez que ouvi falar desta prática, ela estava dentro da roupagem da morning pages, ou seja, atrelada à uma rotina matinal. Isso foi no final de 2018, quando num sábado eu cheguei do trabalho, capotei no sofá e quando acordei meu celular estava tocando vários vídeos da Amy Landino. Depois ouvi com o Matt DÁvella, depois com a Dafne Amaro... Mas só em um seminário de psicologia do trabalho descobri o nome Escrita Terapêutica. Tenho feito isso desde 2019, quando aceitei trabalhar em 2 empregos, o que me fez ter uma carga de trabalho de 50-60h semanais. Eu sabia que ia surtar, pois já sofri burnout anteriormente, então achei que seria interessante escrever diariamente como eu me sentia para que pudesse analisar melhor o meu estado mental. Na maioria das vezes, tem dado certo, e vou falar agora o que aprendi com isso.



1- Você se torna capaz de ver as coisas de uma perspectiva de fora.

    Ao escrever o que quer que seja no papel, você naturalmente consegue colocar uma distância física entre o que você está pensando -- e escrevendo -- e você. Com isso, muitas vezes você se torna capaz de enxergar a sua própria situação como se você não fizesse parte dela. Sabe aquela coisa de ser ótimo em dar conselhos, mas ser péssimo em seguir seus próprios conselhos? Quem sabe se colocando fora dos seus próprios problemas você não consegue se dar conselhos melhores, mais fáceis de seguir?

2- Cê pode se surpreender com o que escrever.

    Como você, ao longo do processo de escrita, está constantemente se percebendo por uma perspectiva de fora, você pode se surpreender com o que pode aparecer ao longo do texto. Nós muitas vezes não conseguimos seguir uma linha de pensamento introspectiva de forma honesta, e quando nos damos a oportunidade de perseguir isso, nos deparamos com verdades brutais. Entretanto, nem sempre ruins. Quando digo que você pode se surpreender, digo que você pode ter momentos de muita empatia e gentiliza consigo mesmo. Vai me dizer que você não quer empatia & gentileza?! 

3- #datecomigomesma.

    É um momento legal de colocar uma música, quem sabe ir num café, ou um restaurante maneiro... Ir num parque ou uma praça, caso você esteja sem grana. E simplesmente aproveitar o momento. Eu mesmo fazia isso nos dias que trabalhava nos meus dois empregos. Eu lembro que tinha exatamente uma hora livre entre chegar de uma cidade à outra e começar meu outro turno. Pô, eu tomava um suco, ou comia uma fatia de torta na padaria chique mais próxima. Às vezes até variava a padaria chique. No fim das contas, apesar de parecer idiota, eram momentos legais, dos quais eu me lembro até hoje.



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Espero que tenha gostado do texto. Comenta ai o que você achou, se já conhecia a escrita terapêutica ou já pratica/praticou isso. Eu gostaria muito de ouvir de você que leu até aqui.


Falou!

sábado, 9 de outubro de 2021

O Nuncapronto





 É cansativo!!

Você corre, você anda, pra frente, pros lados, pra trás, de costas. Porra, cê até se arrasta. O foco é claro, a determinação também. Ainda assim, o que resta a se fazer fora ter paciência para se manter diligente? Ter diligência para caminhar nem que seja um pouco? Caminhar para limpar a mente? Limpar a mente para ter paciência?


É frustrante!!

O sempremfrente, o semprumpouco, a semprepaciência nos deixam semprefocados e nuncadistantes do nosso propósitometa, e a mentafilosofia de que as coisas são semprepossíveis enquanto continuarmos nunquestáticos  nos reconfoca mas também nos recoenforca numa corda preparada por nós mesmos. E o sempremfrente, semprumpouco se tornam o nuncapronto, o nuncafeito, o semprelonge. E não me leve a mal aqui, é importante estarmos sempratentos a nós e aos outros, mas nessa de "como posso estar perdido se não tenho nenhum lugar pra ir" a angústrospecção se torna "como posso estar seguindo em frente se eu nunca vou pra lugar nenhum?"


Until you take action, you're standing still."

-Matt D'Avella.