domingo, 5 de setembro de 2021

O Vinte e Oito


 


Não sou muito de acreditar no Céu. Mas não tem um inferno do qual eu duvide.


    Escrevi essa frase ali há um mês atrás, mais ou menos, pois foi o dia em que começou o meu inferno astral. Não acredito em signos. Não acho que sou regido por estrelas mortas. Mas eu nunca vou ter a coragem de duvidar do inferno. E posso até peitar o demônio, mas nunca vou duvidar de sua maldade. Se você é brasileiro, sabe bem aonde nos leva duvidar da perversão alheia. Não acreditar no melhor, no bem me garantiu ficar mais um ano aqui. E por mais que este seja um caminho interessante para se abordar, vim falar de outra coisa: Do inferno em si.

    Tem sido um mês horrível, um pouco mais de um mês de azar na verdade. E passei por todos os sofrimentos que você pode imaginar, isso sem contar as doenças e acidentes que tive ao longo desses 40 dias. Dormir foi um inferno, trabalhar foi um inferno, cair foi um inferno, levantar também. Ser eu foi um inferno, pois eu não acertei uma o mês todo. Fui insuficiente, infantil, egoísta, tomei por certo o que não devia ter tomado, regredi em comportamentos que já haviam sigo expurgados-- escrever às 3 da manhã apesar de super nostálgico e jovem, é uma das últimas coisas que eu queria pra minha vida agora -- e, pra quem prometeu destruir tudo que não podia ser curado,

BICHO!!!

eu to só a Miley Cyrus. E ontem especialmente, puta merda, tudo que podia dar errado, deu. 


    Ainda assim, mesmo começando meus 28 com os 2 pês esquerdos, acho que nunca me senti tão bem. Ao aceitar o que aconteceu, o que fiz, sem pesar pra cima ou pra baixo as coisas, só me resta acolher e seguir em frente. Ao olhar pra trás, percebo que boa parte do que plantei nos últimos anos foi queimado pelo fogo das minhas próprias incertezas, raivas, tristezas, desesperos. Mas, felizmente, nem toda planta queimou. Muitas dão frutos até hoje. E até mesmo consigo perceber brotinhos surgindo do chão ferido, trazendo vida nova pra uma plantação que já viu dias melhores. Vai ver é a sina da castanheira nascida no cerrado, 

precisa de pegar fogo pra florescer.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

A retratação de Birgitta Lundblad





Como eu não sei
Você acabou comigo
Me partiu o coração
Eu te salvei da morte
E você me matou em retribuição

Eu realmente não sei
Mas de alguma forma juntei
Todo o amor que tive e te dei
Enquanto você em noites quentes
Metropolitanas
Se mostrava distante e ciente
Uraniana
De meu humor fez algo cative
E só posso esperar que cultive
De natureza obediente e crente
Aquilo que sempre contive
Profana

Ainda que se mostre inútil
É cabida a retratação
Pois maior que o meu antigo obrigado
Se mostra o quanto eu me sinto obrigado
A retirar qualquer gratidão
Que já lhe dediquei em tom gentil

domingo, 29 de agosto de 2021

Até O Pescoço




O que mais podemos fazer?? Nós não podemos achar nossa situação ruim, não podemos ter raiva, não podemos ficar tristes. Muito menos ficar revoltados com os outros. Não podemos dizer não. Mas não podemos agradar todo mundo também. Não podemos ser alheios às necessidades das pessoas ao nosso redor, não podemos julgar antes de conhecer, não podemos reagir explosivamente também, pois isso é um indicativo do quão despreparados e instáveis podemos ser para os outros. Não podemos ter o que queremos, nem o que precisamos. Não podemos esperar, muito menos não esperar. Não podemos comprar carne. Não podemos sair de casa, mas não podemos mais pagar o aluguel também. Não podemos não ter calma. E não podemos ter uma sexta pra encher a cara na internet. Não podemos ter finais de semana, nem um dia de descanso. Não podemos ter nosso próprio espaço. Não podemos não ceder. E a gente não pode desistir nunca. Nunca.

E ai eu te pergunto:

Como esperam que a gente continue vivendo com esse tanto de "não podemos" até o pescoço?? Eu sei lá a resposta, e francamente não poderia ligar menos pra ela. Afinal, se tem uma coisa que a gente não pode nunca fazer,


É perder a cabeça.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Como me sinto sobre você parte 3:


 



Basicamente, pesar.


Porra, o que aconteceu sabe? Ninguém era melhor que a gente. Quem te entendia melhor que eu? Quem me entendia melhor que você? Como a gente se perdeu?

Eu tenho todas as respostas

Mas ainda assim, é meio difícil acreditar nelas, sabe? Ontem mesmo eu tava ruminando sobre esse luto e como nesse caminho até a aceitação eu sou só raiva. E tristeza. Eu não sei porque você mentiu pra mim, realmente não sei. Não sei o que você ganharia com isso também. Eu realmente achei que a gente sentia o mesmo um para com o outro. Amizade, parceria. Gostar de estar perto.

Amor

E é por isso que não consegui entender o porquê você deixou de me procurar. Eu te procurava. E você procurava todo mundo. O que será que fiz de menos?? Quem fez por você mais do que eu fiz?? Não importa. Nada disso importa nem nunca importou porque a gente antes de ter consideração sempre teve uma relação. Agora nem sei se isso importa mais, afinal,

Você já partiu daqui.

Mas eu ainda to aqui. E meu mundo está repleto de fantasmas seus caminhando pelos corredores, me olhando de relance enquanto sai da sala para cozinha. Enquanto eu volto pro meu quarto. E tudo aquilo que a gente teve parece um sonho desperdiçado. Tudo aquilo que a gente não teve é gosto de ferro. Tudo aquilo que a gente poderia ter

É um choro que eu guardo comigo pois tenho medo de não conseguir segurar caso o solte um dia.

Um dia, num velório, o corpo de um pai esperava a hora de sucumbir à terra. Aos pés do caixão, sua filha esperneava incrédula, chorava um grito de quem parecia estar sendo cortada ali mesmo. O padre em serviço, ao testemunhar a cena, dirigiu todo seu discurso para essa filha. E a disse como o desespero perante um morto nada mais é do que o remorso pela palavra não dita. Do perdão não concedido e recebido. Eu a olhava com certo desgosto na época -- pelo menos mostre respeito pelo seu pai. -- Mas hoje me vejo nela. Remoído e desesperado. Inconsolável.

Chiliquento.

Chega a ser engraçado né?! Puta merda... Como odeio passar por isso. Você é tão importante pra mim e agora nunca mais. Cê tava ali ontem. E hoje? Só sua sombra. Seu vulto. E a lembrança do último tchau  que você me deu. Quem diria né? Foi só você partir que eu nunca mais te vi de novo. Eu não sabia que sentiria tanto a sua falta assim. Mas também,

Do que adianta agora?



domingo, 27 de junho de 2021

O CHEIRO DO RABO DELA

     




Geralmente é pela manhã. Logo depois que eu volto das minhas obrigações. Digo bom dia, seguido da mesma pergunta de sempre

    E aí, cê tá boa?

Ela me responde e pergunta o mesmo, por pura educação. A gente não é próximo, sabe? Mas ela sempre sabe dizer se eu tô bem ou não pelo jeito que a respondo. Nem sempre sei dizer como que ela tá e isso deixa a nossa dinâmica bem clara: Eu tô sempre disposto a compartilhar mais coisas do que ela. E tá tudo bem, pois quando não estou muito egoísta pra me importar com os outros, estou muito conformado em não ser a pessoa que os outros ao meu redor procuram para desabafar. Não seremos muito mais do que já somos, nem saberemos mais do que já sabemos um do outro. E por mim tá tudo bem, até porque ninguém no mundo pode me tirar

o cheiro que o rabo dela tem.

    Posso me lembrar como se TIVESSE ACABADO DE ACONTECER. O cheiro fresco, direto da fonte. Pungente. Saudável. Não como um soco na fuça, mas como um empurrão na parede, seguido de um beijo. Pura luxúria, direto da fonte. Ela não me tem, nem nunca vai me ter. Mas se me quisesse me teria. Sempre que quisesse meter. E ela teve todas as chances de não me deixar saber, de não me apresentar o cheiro do rabo dela. Eu sei qual é o meu lugar, e sair dele eu nunca o faria. Nunca o fiz! Mas se eu sei algo tão pessoal como o cheiro do cu dela,

foi porque ela quis.


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Muito bom poder escrever um texto sobre o mesmo assunto não só do meu poema brasileiro favorito, como também do tema de um bom filme nacional.

O Deathecator é um espaço de exploração e escrita. Considere deixar um comentário para que possamos continuar a discussão a partir das suas considerações e impressões. Certamente será algo do qual eu encontrarei bastante valor, e espero que você que está lendo sinta-se assim também.

FALOU!

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Mani Gavossi

 


Oi ***, tudo certinho? Então... A gente não se falou desde aquele dia e... Bom, queria saber como você tá. Cê tá bem? Como tá no projeto novo que cê ia fazer? Desculpa... É que você sabe como são as coisas né? Eu tava aqui do meu lado do universo tentando tocar a vida pra frente, fazer coisas novas, conhecer novas pessoas, me apaixonar de novo. Por quê não? Mas aí eu vi você na lista de pessoas que viam meus stories, e eu sentia muito a sua falta. Acho que nunca parei de sentir a sua falta, mesmo quando eu tava certo de que eu não queria mais te ver, nem falar com você. Nem ali eu deixei de sentir a sua falta. Cê se sente assim também? Eu tenho pensado muito no que eu to sentindo. Obviamente to muito cansado, né. Não são tempos fáceis pra ninguém. Ultimamente tem sido mais difícil e eu tenho buscado pensar no porquê. Acho que é porque sinto sua falta. Mesmo com tudo que a gente passou, eu era feliz ao seu lado e meio que sabia. Assim, acho que deixei você subir à cabeça também, entende? É meio idiota pensar que sem você eu não teria a coragem de te deixar, enfim... Eu tomei toda a coragem de te mandar esse áudio pra saber se você já tá com um outro alguém... Se sim, eu perguntaria como ele é -- mas sem a menor vontade de saber e com o coração completamente em pedaços. Se não, eu perguntaria se você gostaria de sair pra conversar comigo. Acho que não foi legal o jeito que a gente terminou as coisas e também acho que por mensagem a gente não passa tudo o que quer dizer. Mas ai também, isso seria justo com você? Eu sei que cê tem dado o seu melhor pra superar também. Será que eu voltar ia ser bom? Ou ia criar mais nóia na sua cabeça? Não quero isso pra você, também não quero que você se lembre de mim assim... Enfim, eu claramente to pensando mais em mim do que você e mesmo achando isso justo e digno, não acho correto te trazer pra confusão na qual eu me coloquei agora. Argh! Cê deve estar me achando um tanto quanto louquinha. Estaria, se eu eu apertasse o enviar. Adeus, nenen...


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Hoje eu não tava nem um pouco afim de escrever. Mas to fazendo o #100DaysOfWriting e não tem pra onde fugir, comecei a pensar no filme de quarentener da Moni Govassi e é isso. Foi bom ter conseguido me divertir.


FALOU!

domingo, 20 de junho de 2021

O Fantasma no Amor





Tenho visto fantasmas. Enquanto estou focado no trabalho, ouço um ranger de portas, e lá de dentro do barulho, ela sai. Pele branca e olhar frio como a neve. E com ela, todas as lembranças voltam. Tudo que vem junto dela. Todos as vezes que quase a beijei, todas as vezes que eu poderia jurar que ela queria ser beijada. Todos os beijos com gosto amarguinho de "até mais". Todos os abraços e passeios, todos os choros e segredos. Se ela estivesse aqui saberia do que estou falando.

O que ela não saberia é do quão grande é o tudo que vem junto dela. Com ela vem tudo que eu sei que ela espera de mim, e esperaria de quem eu poderia ser pra dar certo. Vem tudo que ela quer e eu não quero. Tudo que eu posso dar e que não serve pra ela. Vem tudo que eu estou disposto a dar por amor e justamente aquilo que não abro mão por ninguém também. Vem tudo de mim que ela tem. E tudo que agora é dela, mas que um dia já tive.

Tudo que eu abandonei.

E enquanto ignoro sua aparição, consigo notar seu olhar triste que assombra meus ombros. Olhar de quem se importa. Quem sente falta. E quase me deixo levar...



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Eu sinto fantasmas. Mas desse eu não falo pra ninguém. Vejo suas manifestações, mas nunca te vejo. Não sei se verei novamente. Falei de você antes, e é bem capaz que volte a falar novamente. Às vezes visito nossa antiga casa, dois quartos em Taguatinga Norte. Cara, eu adorava aquele apartamento. Simples, mas tudo de bom, né? Ainda passo por onde andávamos, claro... E você nunca tá presente, mas suas manifestações estão sempre ali. Aqui. Todo o futuro ao seu lado que, porra... Eu queria muito querer. Às vezes realmente acho que quero. Na quinta eu quase tive certeza. Vivo uma vida miserável, em que busco traumas passados imperfeitos, perfeitos e mais-que-perfeitos para me derrubar, mas ao seu lado tava tudo meio que bem. Porém, infelizmente, o dia fatídico veio, e ai você quis me matar, e eu não pude deixar. Já pensou que triste seria, amor? Matar quem se ama não é certo. E pra evitar isso deixei a gente morrer. Uma decisão acertada, ainda assim amargurada. Eu ainda sinto falta. Eu ainda sinto sua falta.


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O Deathecator é um espaço de exploração e escrita. Considere deixar um comentário para que possamos continuar a discussão a partir das suas considerações e impressões. Certamente será algo do qual eu encontrarei bastante valor, e espero que você que está lendo sinta-se assim também.

Muito obrigado.

FALOU!


domingo, 13 de junho de 2021

Uma Garrafa de Tenência

 




O básico do minimalismo trandy que tem rolado desde 2010 e hoje percebe-se espalhado no mundo todo tem como princípio, ou processo, o ato de organizar-se materialmente através da eliminação dos itens que não são necessários ou não trazem valor para a vida da pessoa que faz esta organização. Em inglês, esse processo seria uma junção de duas ideias, a de decluttering e curation. 

E sim, aqui eu to dando uma definição de minimalismo fortemente embasada no Leo Babauta e nos caras do The Minimalists.

A ideia é trabalhar os conceitos de decluttering e curation nas coisas materiais da vida para que possamos entender e sentir melhor essas ideias e para que, em seguida, possamos aplicá-las nas coisas que realmente importam: nossa relação com nós mesmos, nossa vida profissional, acadêmica ou educacional, espiritual e também, 

nossa relação com os outros.

Esse é o ponto que quero trabalhar aqui. Quando comecei no minimalismo, eu realmente não tinha muita coisa. E o meu ponto sempre foi criar a partir disso, uma consciência de não ter demais -- Afinal, eu tava num ponto tão baixo na vida que as coisas só poderiam melhorar dali, então eu sabia que eventualmente teria condições de ter mais coisas. E, de fato, passei a ter mais. O que eventualmente se torna um problema, pois a tendência é de que percamos a mão das coisas que tentamos controlar na medida que mais coisas carregamos nas mãos, o que torna toda essa onda minimalista nada mais do que uma roupagem nova pra questões fundamentalmente humanas: Auto-reflexão e auto-avaliação; ou em outras palavras, refletir sobre o que é importante para nós e qual é a melhor estratégia para lidarmos com todas estas coisas em uma prioridade dada. E apesar de ter mencionado o momento da vida em que comecei no minimalismo, ainda não disse necessariamente como comecei e, pra ser sincero, não tem muito o que falar. Em resumo, precisei dizer não para muitas pessoas ou de outra forma eu teria morrido das mais diversas maneiras; e a partir disso, passei a eliminar da minha vida as coisas que me faziam sentir como quando eu estava com elas, assim como o que aparentemente me fortificava mas na verdade só me escondia e me impedia de lidar com a merda na minha frente. Desesperador, de certa forma, mas foi para que hoje eu pudesse me sentir melhor do que me sentia lá atrás. E nisso deu certo, estou de parabéns.

Quase

Infelizmente, acho que em algum ponto perdi a mão de tudo mesmo. Soltei demais, talvez até de coisas importantes, das quais eu devia ter segurado com mais força. Também soltei de menos, e não fiz coisas que deveriam ter sido feitas ou não disse coisas que deviam ter sido comunicadas... Não importa o motivo também, pois tudo que temos são as consequências das coisas que fazemos e as da que deixamos de fazer. Talvez ter dominado a arte de abrir mão das coisas me deixou um tanto vazio e desconectado de tudo. E ok, tem sido muito difícil viver enquanto brasileiro, mas e dai também, sabe? Eu realmente quero deixar uma porra de país dominar os aspectos mais privados da minha existência? Sinceramente acho que não!

E obviamente aqui só posso falar de mim, pois do fundo do meu coração, eu não sei como você que lê isso aqui se sente.

Mas, pra além do disclaimer, você deve ter se perguntado um pouco antes "ah mas se a arte de abrir mão das coisas tem como propósito algum tipo de realização, como você se diz mestre dessa arte sem realizar nada com ela?" E bom, tudo que eu tenho pra te responder é que cê tá certíssima. Não a domino, pelo menos não mais. Sem realização, qual é o propósito de tudo, não é mesmo??

E é exatamente isso que eu tenho me perguntado

Nada tem sido realmente ruim (dado a situação das coisas), mas ao mesmo tempo tudo tem sido ridiculamente insuportável! Você sente isso também ou sou só eu? Não deve ser só eu, pelo amor de Deus! Já me basta o excesso de advérbios, não quero outro traço ridículo de personalidade na minha conta. Mas como o artista que eu gosto de pensar que serei um dia, tenho um certo apreço pela insatisfação. Afinal, nada expressa melhor a estagnação na curva de aprendizagem do que aplicar todo seu conhecimento em algo e ainda assim nada dar certo. Infelizmente, é complicadíssimo tirar motivação deste momento, em específico. E enquanto ele não passa, as coisas vão permanecendo desamparadamente desesperadoras, absurdamente complicadas... Mas pro bem ou pro mal, fundamentalmente humanas.


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O Deathecator é um espaço de exploração e escrita. Considere deixar um comentário para que possamos continuar a discussão a partir das suas considerações e impressões. Certamente será algo do qual eu encontrarei bastante valor, e espero que você que está lendo sinta-se assim também.

Muito obrigado.

FALOU!


terça-feira, 4 de maio de 2021

O que é?




Nesses momentos, tudo que temos são lembranças, né? Começo com as que mais pareciam desagradáveis, tipo a sardinha frita que me era servida quando moleque, sempre à noite, na casa por fazer, deixando toda a situação mais tavernosa do que devia ser. Às tarde de domingo desperdiçadas durante às visitas semanais, vendo Gugu, só não mais longas do que às noites, vendo Faustão. Eu queria tanto voltar pra casa, bicho! Cês não fazem ideia...

Óbvio que eu não poderia me esquecer dos ovos de páscoa Top Milk -- que pelo teor do texto, serão descritos somente como INESQUECÍVEIS e INIGUALÁVEIS -- recebidos durante vários e vários anos, mesmo depois da gente aqui ter ficado mais grandinho. As várias idas e vindas de tudo quanto é lugar possível por conta de um pálio velho... engraçado que eu só lembro da volta do cemitério. Um outro dia terrível, mas que nos leva pra outras lembranças:


as boas


Como, por exemplo, as mais sutis. O carinho nunca mensurado e sempre constante, desde a sardinha e o ovo de páscoa, passando pela comida boa, chegando finalmente no interesse genuíno em saber como eu tava indo na faculdade ou se eu tinha um emprego. A confiança em me ter como motorista do pálio velho. O melhor cobertor dourado do mundo, que só deixa de me abraçar quando o cheiro fica insuportável, e um presente que estará comigo por vários e vários anos ainda -- sendo, no mínimo, o terceiro melhor presente que eu já ganhei na vida, mas certamente o que mais faz diferença nela hoje. --  Madrinha de quem eu mais devo tudo. É impossível passar pela vida sem arrependimentos,

sem erros,

mas o que acho impressionante é talvez sua maior qualidade; é ter preservado um espírito Divino quem sabe tão grande quanto de quem você o aprendeu. A força de agarrar à vida com tudo que tinha. A força de amar a prole acima de tudo que o mundo tem a oferecer. O amor que abraçou filhos que nem eram os seus. Que nem sua mãe fez a vida toda.

O que é? Morreu. O quanto foi destino, o quanto foi tragédia, o quanto foi negligência, o quanto foi assassinato? Beira o redundante dizer que só quem viveu isso sabe quando 400.000 famílias tão sabendo. Seus vizinhos sabem, seus colegas de trabalho sabem, seus clientes sabem, seus patrões sabem.

TODO MUNDO SABE,

mas eu talvez tenha me tornado um pouco mais radical quanto a tudo isso hoje. Sangue meu derramado por bosta, por um bosta, e vocês bostas marchando em prol de toda essa bosta. Dá raiva.

sábado, 1 de maio de 2021

Hoje sonhei que te perdia.


 


Hoje eu tive um sonho.

E nesse sonho, eu te perdia. Eu tava lá, você também, e você chama ele pra conversar. Sem muitas palavras, você diz "eu vou embora". Você estava do lado de onde eu fico, mas por algum motivo do lado esquerdo. "Eu quero ir embora", você falou pra ele. Ele busca entender o que estava acontecendo, "está difícil pra todo mundo mesmo..." -- ele comenta. Você responde, "eu só não aguento mais tomar no cu assim, sabe", enquanto dá aquela risada que poderia muito bem ser um grito de desespero, ou um choro angustiado. Eu vejo a movimentação de onde fico, vocês indo conversar em uma sala maior, mas por algum motivo ela e o corredor ficam do lado esquerdo agora, como se o que tinha ali pudesse sair do lugar. Em menos de cinco minutos, vejo você indo embora, como se eu pudesse ver você indo pra porta. Você já foi. Não olha pra trás, não busca me ver antes de partir, partindo meu coração na saída. Antes que eu pudesse processar, ele volta, estamos conversando agora. Me pede para remanejar meus documentos, dar um título à eles. Eu não entendi. Perguntei o que faríamos sem você, se você tinha ido embora mesmo. Ele disse que sim, e que teríamos que lidar com isso agora.


"It's there... and then it's gone". Eu nunca parei pra notar o quão fácil é pra você simplesmente ir embora. Pra ser sincero, nunca pensei que você iria partir, mesmo depois da fissura. Não sei o porquê, também. É natural querer ir embora de uma situação desagradável, né? E convenhamos, já tivemos dias melhores. Eu não soube fazer nada quando a gente tava bem, nem quando a gente ruiu, nem agora que a gente acabou... e eu não saberia o que fazer quando ce for embora. Não entendem como alguém brilhante pode estar feliz nadando em bosta, mas pra mim faz bastante sentido. O que não entendo é como você se contenta com isso também. Talvez a razão da minha esperança está ai. Como alguém que nunca uma vez na vida esteve satisfeita com algo pode aceitar o que eu aceito também? Que outros "eu aceito" conseguiria ouvir você falar, poderia te falar também? Delirante né?! Eu sei, mas se tem duas coisas que sempre fui, uma delas é sonhador.


A outra, é trágico.