É da condição humana criar uma linha lógica de raciocínio para dar razão à qualquer coisa que nos aconteça. Tá tudo uma merda um mês antes do seu aniversário? Inferno astral. Tá tudo uma bosta no trabalho? Foi aquele café que eu não tomei...
domingo, 25 de setembro de 2022
E Se A Borboleta...
É da condição humana criar uma linha lógica de raciocínio para dar razão à qualquer coisa que nos aconteça. Tá tudo uma merda um mês antes do seu aniversário? Inferno astral. Tá tudo uma bosta no trabalho? Foi aquele café que eu não tomei...
domingo, 19 de junho de 2022
Discípulos Do Amor
Tenho uma certa questão com a narrativa do sozinho. O conceito mesmo. Como, por exemplo, a distinção entre solidão e sozinho. Solidão é algo que todo mundo já sentiu, já viu, já passou. É a mesma coisa do estar desolado, num grande e vasto zero, completamente distinto do um. Já o sozinho, apesar de num primeiro momento ser nada além de um predicado, é na verdade pura e severa tristeza. É desafeto, pesar. Engraçado né? Solidão é não estar acompanhado, tipo ir na padaria; mas estar sozinho é não ter ninguém pra te acompanhar, tipo não ter como convidar alguém praquele compromisso insuportável, mas inevitável.
E justamente na inevitabilidade de se sentir muito mal ao constatar não a solidão, mas o estar sozinho, em nossas próprias vidas, que vem o desespero e o ímpeto de mudar. Assim como nos foi ensinado que estar sozinho é muito ruim e horrível, nos foi ensinado que pra acabar com a solidão a gente tem que avaliar opções, mandar umas DMs, voltar pro Tinder, aprender que é completamente proibido perguntar pras pessoas como elas estão, pois assertividade e criatividade em uma única frase são tudo que alguém precisa saber sobre você. Você tem que valer a pena uma resposta. E as pessoas tem que valer a pena as suas perguntas.
Consegue ver a lógica por trás disso?
Obviamente, ao lidar com o aspecto social da vida como se fosse somente mais um produto na prateleira do mercado, nossas próprias emoções e relações deixam de ser uma questão de saúde e bem-estar e se tornam uma questão de produtividade, gerenciamento de tempo, resultados, comportamentos... e não chega a ser uma surpresa quando vários de nós passamos a protelar uma conversa com o RH dos nossos próprios divertidamentes por estarmos sofrendo de um burnout cujo a causa é o medo do estigma do estar sozinho. Muita gente tem essa dependência pelo relacionamento, companhia, sexo,
Essas paradas aí
e eu também achei que tinha, afinal sou um discípulo da Mulher Melancia -- tem solteira aqui hoje? risos -- Então aproveitei um fora que tomei em abril e (ler daqui pra frente como se eu fosse um paulista com mais de 15mil seguidores no instagram) decidi me reencontrar com o meu eu, sair mais com os amigos, novos hobbies, #DatesComigoMesma , a porra toda, porque sei lá, todas as blogueiras falam disso, as tirinhas de amor e tals... Até Kierkegaard já dizia que um dos pré-requisitos pra se religar ao Todo é o paradoxo do amor, aprender a se amar para então conseguir amar plenamente o outro. Mas como tudo na minha vida, o gosto foi de frustração, pois fiquei sozinho é foi o máximo, cara!!! E eu sou muito bom nisso também. Tenho hobbies que nunca pensei ter, amigos novos, rituais de solidão muito bem apreciados e reencontros ainda mais divertidos, mesmo na monotonia do cotidiano. E cheguei num ponto que beirou a arrogância, sabe?? "Como assim as pessoas não sabem ser sozinhas?? Vocês por acaso são idiotas???"
Meu problema sempre foi estar com os outros, na verdade. Acho que é comum de quem não é a coisa mais sociável do mundo lidar constantemente com a frustração do desencontro pós-se-encontrar. Mas a ficha só caiu recentemente. Partir pra próxima com leveza, independentemente da conversa ter sido legal ou não é um talento que nem todo mundo tem, mas qualquer um pode conseguir. E entender que não se deve nada a ninguém é libertador, tanto para os sozinhos quanto para os acompanhados. Um professor meu meio que disse uma vez, "ao comer uma banana, nós não comemos a banana em si, mas os significados embutidos nela". E, mesmo estando errado o que eu disse aí, faz sentido no que vou falar em seguida: a questão não é estar sozinho, mas sim os significados atrelados à estar sozinho. Quanto mais a gente se desprender dessa nojeira imposta e nos atermos ao que realmente temos em vista, mais satisfeitos estaremos com o que temos aqui. Mais felizes estaremos, e estar sozinho não será mais uma questão.
FALOU!!
domingo, 22 de maio de 2022
Você Sabia??
link para o texto em áudio: https://open.spotify.com/episode/2t5oy4xsOpjywGBNBNsiMA?si=16e98a4b68eb4f1d
sábado, 2 de abril de 2022
Rid'Along
Um homem sozinho se espanta ao comtemplar um conhecido lhe acompanhando em seu lugar de solidão.
-- Ué, você aqui?
-- Sim... Acabei voltando.
-- Mas como assim, o que houve?
-- Uai, bicho! O óbvio né?!
-- Claro, perdão... Eu não queria também ser insensível contigo.
-- Tranquilo. Eu entendo.
-- Mas assim, na moral, eu realmente achei que você demoraria pra voltar dessa vez.
-- Ah, cara. Eu também achei. Mas tu já viu The Mentalist? "It's there... And then it's gone" - foi desse jeito que acabou e eu voltei.
-- Porra, que merda, hein? E como você está com tudo isso? Mal, eu imagino.
-- Pô bicho chorei pra caralho, aquele choro de luto, manja? Tô estranho até agora, minha família, meus amigos veem isso, mas ninguém sabe ao certo o que fazer, o que perguntar. Nunca ouvi tanto "você tá bem?" quanto agora essa seman... Quer dizer, fora agosto do ano passado, né? Quando ela infelizmente se foi...
-- De fato foram tempos difíceis.
-- Ainda são.
-- Sério? Achei que tivesse finalmente chegado na Aceitação.
-- Cheguei, chegar lá cheguei. Mas aceitar é uma coisa. Sentir é outra. Aceitar é a parte mais fácil de tudo, na verdade. Ainda mais nesse tipo de partida, afinal, quando ela resolveu partir eu... Eu... Porra, meu mundo acabou naquele dia. Aprendi horrores, sobre a vida, sobre mim, sobre o amor, sobre sofrimento.
-- Cê chegou a morrer também?
-- Cara, não. Dessa vez não. Mas eu virei meu vô por um tempo, e perdi o rumo da vida, Caí num marasmo fodido, o mundo acabando, todos nós ouriços buscando resguardar os que amamos de se machucarem...
-- Ah, mas também acho que cê só morre uma vez né?? Tipo, ou tu morre ou tu vive pra sempre depois de morrer.
-- Hm.. Bicho, não sei. Acho que dá pra morrer mais vezes, sabe? Por exemplo, quando um filho morre, você morre também né? Já vi gente morrendo mais de uma vez. Mãe morreu pelo menos umas três vezes já. Mas pai, que eu me lembre, só foi uma mesmo.
-- E como é que eles estão? Tudo bem?
-- Tão bem. Acabaram de refazer a cozinha.
--Ah legal.
-- E você, bicho. Eu sei que eu sou a novidade aqui, mas e você? Como tem passado, o que tem feito?
-- Ah, cara, acho que vai ser menos sozinho agora né, com você aqui. E no mais, acho que bom, nada mudou. Aqui era do jeitinho que você tá vendo. Só o vazio e eu. O catálogo da Netflix é horrível, né, então acaba que eu acabo ficando comigo mesmo. Às vezes, toco um City Pop e danço com ela, quando ela aparece. Levíssima né.
-- É.
-- É! Então a gente acaba dançando bastante.
-- É bom quando a gente se mexe um pouco, usa o corpo pra pensar também, né?
-- Sim, e com ela é perfeito porque eu consigo espairecer totalmente. Se fosse com outra pessoa...
-- Per Deos Obsecro...
-- Per Deos Obsecro...!
Ambos riem.
-- Mas e agora, cara, que cê vai fazer da vida? Vai ficar aqui? O que houve que você veio pra cá dessa vez?
-- Bicho, não sei se fico. Eu tinha conseguido sair né? Precisava reparar o que fiz ano passado. Acabou que por algum motivo fui perdoado. Ai fui lá pra fora. Indo na calma, sem exigir demais, sendo o cara que eu queria ser. Gosto de ser. O que eu não fui pra...
-- De boa, eu sei.
-- Mas aí, bicho. Eu estiquei a mão pra ela, sabe? "Vem! Fica comigo!" - Eu disse.
-- E ela?
-- Foi embora e eu caí aqui de novo.
-- Porra, pelo menos cê sabe o porquê?
-- Sei.
-- ... E?
--... -- Após um certo tempo. -- Deixa quieto, bicho.
-- Foi ruim assim?
-- Foi.
-- Mas, cara, não entendo. Eu te conheço, ent...
-- Então cê sabe o que eu perdi.
-- Tá. É verdade.
-- Uma vida inteira morreu ali, bicho. Não tem como não sentir isso.
-- Não tenho nem o que dizer, cara.
-- Tudo bem. Só de cê vir conversar comigo já me ajudou horrores. Obrigado.
-- Tamo junto!
-- Também, pra isso "não tem jeito", né?
Ambos riem novamente.
terça-feira, 1 de março de 2022
O Gênio Do Ska
Nessa ******, ****** não nos busca contar uma história específica como em outras *******, como ****** e ******, em que temos personagens principais, alguma espécie de narrativa -- ainda que vaga -- que obedece a costumeira estrutura dos 3 atos. Em ***, ******* escreve um tipo de sermão para uma mulher, aparentemente. Ela parece estar passando por problemas amorosos, mas não sabemos ao certo se é com seu namorado ou só alguém que ela gosta. De acordo com a *****, a moça para quem é dirigida a bronca está completamente imersa numa mentalidade típica de protagonistas das comédias românticas adolescentes, tendo toda a sua atenção e esforços voltados para um amor, mas não um amor saudável, real. Ao que tudo indica, sua angústia provém do sentimento desconexo próprio da dialética entre o que ela tem -- que, segundo a ******, é simples e pura solidão -- e o que ela acha que devia ter:, uma paixão ardente e eletrizante de cinema. A ****** faz essa relação entre realidade e filmes constantemente para deixar claro a dicotomia exposta acima e segue, quase sempre, num tom de deboche, tratando, de certa forma, a garota como uma completa idiota.
Na primeira estrofe, temos o narrador -- no caso, o cantor ******* ***** -- começando seu sermão, em tom de chacota, perguntando se ela não entendeu que a vida é diferente do que se passa na TV, se ela não sabia que na vida ninguém vai magicamente socorrê-la em um momento de sufoco emocional como este que ela está passando.
Ele segue satirizando a pessoa para quem ele direciona o sermão, ao pintar a imagem desta mocinha absorta na vista da própria janela, alheia à percepção dos próprios erros cometidos enquanto sofre copiosamente no próprio drama romântico a ponto de parecer que vai morrer disso.
O refrão, assim como as duas primeiras estrofes, é bem simples mas comunica uma mensagem forte. O narrador retoricamente questiona se faz diferença o salvador da menina aparecer, como se dizendo que não importa ela conseguir o que quer ou não, pois isso não vai acabar com o problema. Parafraseando: "O problema não é o que aconteceu ou acontecer com você. Mas você. E só você. É só isso que tenho a dizer."
As próximas duas estrofes seguem com a mesma mensagem que seguiam as duas primeiras. A terceira estrofe, quase um reflexo perfeito da primeira, segue com a mesma pergunta, mas ressalta uma tragédia maior ao pontuar que não sobrou nenhum sonho para a mocinha e que todos, menos ela, percebem seu estado delirante. A quarta estrofe segue um reflexo exato da segunda estrofe, assim como o refrão, que se repete idêntico.
Como vocês devem ter notado, o título da ****** -- *** -- não tem nada a ver com conteúdo da ***** ou mensagem desta. Embora não explícito na *******, é razoável supor que o nome vem do estilo musical no qual a ****** pode ser enquadrado. Ainda que tenha clara referência em bandas como The Police, segue um pouco atrás, cronologicamente, das terceira e pós-terceira onda do ***, dado ao ano de seu lançamento, 6 anos antes do grande boom destas ondas nos anos 1990.