segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Sobre As Situações Onde Todos Perdem


    



    Se você, assim como eu, tem um interesse particular em resoluções de conflitos, já deve ter ouvido -- provavelmente devido às séries norte-americanas que constantemente usam deste artifício para plots de sitcoms -- das famosas "win-win situations", ou situações em que todos ganham. Obviamente, ela busca solucionar uma questão de forma em que todos recebam algo positivo ou favorável. Assim como Carole Pateman se utilizou d'O Contrato Social para desenvolver a brilhante ideia d'O Contrato Sexual, venho com uma versão mais pobre e nada original da ideia propor uma conversa sobre as "lose-lose situations", ou as situações onde todos perdem.


    Como exatamente elas funcionam: É simples, ninguém ganha.

Humor.

    Para elucidar melhor, uma situação: Imagine que você está chateado com um amigo, ele anda distante, você sente falta dele, ele não parece ter tempo para você. Talvez o seu bom julgamento o diga para conversar com ele, mesmo que vocês não possam se encontrar. Talvez compartilhar um meme ou post, quem sabe entender um pouco da vida dele antes de dizer o que você gostaria que ele soubesse. Aqui temos bons fundamentos para as situações que alguém ganha, pelo menos.

Mas não são dessas situações que estamos falando aqui, você tem vários youtubers para isso.

    Estamos aqui para as situações em que todos perdem. Você não gosta de se sentir negligenciado pelo seu amigo, não busca conversar com ele por se sentir desgostoso com a situação toda. Também escolhe não desabafar com alguém, ou trazer a discussão para uma terapia -- é ótimo trabalhar questões que temos com as pessoas na terapia, sabia? -- ou até para alguém que você pode contar nessas horas para te aconselhar. Você não está pensando muito bem nas consequências, afinal, seu julgamento está nublado pela raiva que você sente. Cê escolhe explodir na internet, com indiretinha no Instagram, Twitter, TikTok, sei lá. Seu amigo, embora distante de você, fareja quando o assunto é com ele rapidinho, e não gostou de tomar um sucker punch enquanto lê uns tweets na pausa para o café. O que pode ser ele desabafando sobre outra amizade, um crush ou trabalho passa a ser sobre você, que já tá virado de ódio. Você, do alto do seu cavalo, dono da razão, começa a tratar mal seu amigo, e já não sabe mais quais são as reais intenções de cada ação ou reação dele, silencia, bloqueia, responde mal, ele percebe tudo. Ele também já começa a não fazer questão da sua amizade e reage de forma fria à assuntos que tangem vocês. Eventualmente vocês conversam, expõem suas dores, ninguém se entende e uma amizade morre. Da pior forma ainda, pois morreu de morte matada. Você matou sua amizade com seu amigo, ele matou a amizade que tinha com você e o pior de tudo, como vocês nunca chegaram de fato a conversar sobre os atritos que levaram a relação a se desgastar, ambos abertos, com empatia numa mão e perdão na outra, uma amizade morreu por nada. E todo mundo envolvido aqui perdeu.

    Não me leve a mal, as coisas precisam morrer. Mas as pessoas não precisam perder com a morte (a não ser a vida, né? #humor), muito menos morrerem depois das coisas. Situações em que todos perdem são frustrantes por não levarem a lugar nenhum. São um esforço direcionado à um monolito que nunca moverá. Mas, como esperado, existe uma opção, acredito eu, para as situações em que todos perdem. Uma solução bem simples, eu diria, que seria a tomada de consciência. Acredito que para situações como essa é importante que tomemos plena consciência da situação, pois uma área que não costumo muito ver sendo discutida é o quanto se perde nas situações em que todos perdem. Às vezes, a perda entre as partes pode ser desigual. Você pode estar ai pegando o seu tempo valioso, tudo que você de fato tem no mundo, e tomar ações completamente estúpidas com ele de forma a fazer com as outras pessoas com quem você interage também percam. Mas será se elas estão perdendo tanto quanto você? Será se o dispêndio do seu lado tá menor? Será se as partes que perdem junto com você estão perdendo da forma que você esperava? Ou elas lidam melhor com isso do que você? Será que a satisfação que você tem com a sua ação é duradoura ou -- ainda melhor -- construtiva?

Você tem certeza que só não tá perdendo o seu tempo?

    O amargo das situações em que todos perdem é que tanto as nossas ações quanto as consequências delas saem pela culatra. Quando você busca ferir -- ainda que inconscientemente -- alguém, você acaba se ferindo. Ao buscar chatear ao outro, você acaba mostrando o quão chateado você está. Uso minha experiência mesmo, pois nela vejo cada esforço mal direcionado partir do ator como bumerangue somente para retornar na cara de quem o lançou pra frente. E de tanto ser o agente principal quanto secundário das situações em que todos perdem, acabo as percebendo com certa facilidade. Com certo carinho, também. É somente estatístico dizer que todos participaremos em situações onde todos perdem eventualmente. O quanto perderemos já é um âmbito mais cinza para previsões. Mas ninguém tem culpa de estar numa situação dessas, pelo menos na medida em que por ventura caímos nelas, visto que somos seres emocionais, fadados à cair em tentação. Para você que engajou, se meteu ou foi metido numa situação em que todos perderam uma vez ou outra, no mínimo você é um aprendiz, no máximo um azarado. Com método e prática tudo se resolve. Agora, se você ativamente engaja em situações em que todos perdem, é crucial que você seja não só sua própria ruína mas principalmente a ruína de quem perde com você, porque se você tá perdendo cada vez mais e as outras partes perdendo cada vez menos, a lose-lose situação se descaracteriza, e no fim do dia

Você é só um perdedor fodido.

---

Obrigado por ler até aqui. Não esqueça de comentar.

domingo, 24 de outubro de 2021

Era de Movon



    

    Já era tarde do sábado, quase virando a zero hora, quando recebi a notícia que você havia saído de vez da minha casa. Era esperado, claro. Mas sei lá, mesmo sabendo o que você quis dizer, assim como Herbet, acho que não quis escutar. Na minha cabeça o que eu queria ter ouvido era melhor, sabe? E uma vez liberto pela confissão, o que me abalava se tornou somente luz que refletia ao tocar na minha pele.

    Infelizmente, a luz refletida também me cegou para a realidade brutal de que o que me abalava te dominou também. Talvez até mais, não sei. E não saber faz nascente das esmeraldas, da nascente surge um rio, e deste rio, cachoeira. Uma cachoeira de rancor que flui forte como se fosse ancestral, pois a dor deste parto é tão ancestral quanto a primeira tragédia do mundo, dado que você caiu pelas mãos de seu igual.

    Não importa os motivos, realmente achei que poderia nos consertar se Deus me concedesse perdão. Ele de bom grado o fez, visto que seu Senhor é justo. Mas o fez somente para me mostrar que não é só de perdão que se melhora o mundo. Tem muito querer envolvido, muita confiança e, obviamente, pouquíssimo tempo. O seu tempo acabou, e por conseguinte o meu também. É preciso saber muito para melhorar, e enquanto cruzo essa ave de argila branca que nós chamamos de pátria, percebo que de você não sei mais nada. Dizem que

A esperança é a última que te mata,

E agora que você saiu, acho justo tomar uma posição ativa para que me torne aquilo que prometi ser no reencontro. Mas por mim, não por você. Se um dia voltar, deixo esta carta aqui para que possa encontrá-la. E a partir de então me torno a esperança do que eu esperava de nós, pois se o inimigo do meu inimigo é meu amigo, a esperança da minha esperança é sua assassina.

E parti.

---

Muito obrigado por ler até aqui, sinta-se livre para deixar um comentário.
Falou!

domingo, 17 de outubro de 2021

Um Retrato da Tristeza.

   



 Tem hora que não consigo me conter. E então ataco. E vou atrás. Digo tudo que quero dizer, afinal sou tão melhor que você. Jogo mais gasolina no fogo. E me fodo por sentir frio depois. Vou lá e jogo mais. Da minha cobertura observo todo o movimento e os erros que você comete, pedestre e descoberto na chuva da desgraça. Fracassado. Fodido. Seu bosta. Sou juiz e você só mais um condenado que nem merece meu julgamento.
    
    Quer dizer, mal merece meu julgamento.
    
    É como se você estivesse pedindo pra tomar na cara. Você tá tão exposto que é impossível eu não te aplicar meu parecer, minha punição. Meu julgamento é absoluto. E então você se torna aquilo que julgo. Tudo. Não importa o quê, você não precisa saber de onde vem, pois você é só um alvo. Eu sou o acusador, o juiz e o algoz. E não tem nada mais importante pra mim do que deixar bem claro o que eu penso de você, pois alguém merece te colocar no seu lugar. E esse alguém sou eu. E eu vou até o fim com isso, pois não vou abrir mão de chutar cachorro morto, seu vira-lata maldito. Sua falsa coragem não vai te salvar da minha obliteração. Não vou abrir mão. Não posso abrir mão. Pois me apegar ao total desprezo e asco que eu tenho pela pequenez que é a sua existência podre até você quebrar é o que me faz seguir em frente.


---
Muito obrigado por ler até aqui. Deixa um comentário tbm!
Falou!

terça-feira, 12 de outubro de 2021

3 Paradas Que Aprendi Com A Escrita Terapêutica




    A escrita terapêutica é simplesmente a prática de escrever deliberadamente por alguns minutos, podem ser 10, 20, 30... bicho tem gente que vai 1h escrevendo sem parar. O que se escreve é muito simples:

tanto faz.

    Pode ser o que aconteceu no dia anterior, o que você espera pra hoje ou pra amanhã. Como você se sente sobre determinado assunto -- família, relacionamentos, amizades, trabalho, futuro-- ou qualquer outra coisa que vier na sua cabeça, pois a meta aqui é justamente escrever sem qualquer julgamento, contanto que você escreva sobre algo. Com base na literatura, na psicologia e na minha própria experiência nessa prática, vou descrever 3 coisas que aprendi com a escrita terapêutica. Mas que experiência é essa? Eu te conto

     Da primeira vez que ouvi falar desta prática, ela estava dentro da roupagem da morning pages, ou seja, atrelada à uma rotina matinal. Isso foi no final de 2018, quando num sábado eu cheguei do trabalho, capotei no sofá e quando acordei meu celular estava tocando vários vídeos da Amy Landino. Depois ouvi com o Matt DÁvella, depois com a Dafne Amaro... Mas só em um seminário de psicologia do trabalho descobri o nome Escrita Terapêutica. Tenho feito isso desde 2019, quando aceitei trabalhar em 2 empregos, o que me fez ter uma carga de trabalho de 50-60h semanais. Eu sabia que ia surtar, pois já sofri burnout anteriormente, então achei que seria interessante escrever diariamente como eu me sentia para que pudesse analisar melhor o meu estado mental. Na maioria das vezes, tem dado certo, e vou falar agora o que aprendi com isso.



1- Você se torna capaz de ver as coisas de uma perspectiva de fora.

    Ao escrever o que quer que seja no papel, você naturalmente consegue colocar uma distância física entre o que você está pensando -- e escrevendo -- e você. Com isso, muitas vezes você se torna capaz de enxergar a sua própria situação como se você não fizesse parte dela. Sabe aquela coisa de ser ótimo em dar conselhos, mas ser péssimo em seguir seus próprios conselhos? Quem sabe se colocando fora dos seus próprios problemas você não consegue se dar conselhos melhores, mais fáceis de seguir?

2- Cê pode se surpreender com o que escrever.

    Como você, ao longo do processo de escrita, está constantemente se percebendo por uma perspectiva de fora, você pode se surpreender com o que pode aparecer ao longo do texto. Nós muitas vezes não conseguimos seguir uma linha de pensamento introspectiva de forma honesta, e quando nos damos a oportunidade de perseguir isso, nos deparamos com verdades brutais. Entretanto, nem sempre ruins. Quando digo que você pode se surpreender, digo que você pode ter momentos de muita empatia e gentiliza consigo mesmo. Vai me dizer que você não quer empatia & gentileza?! 

3- #datecomigomesma.

    É um momento legal de colocar uma música, quem sabe ir num café, ou um restaurante maneiro... Ir num parque ou uma praça, caso você esteja sem grana. E simplesmente aproveitar o momento. Eu mesmo fazia isso nos dias que trabalhava nos meus dois empregos. Eu lembro que tinha exatamente uma hora livre entre chegar de uma cidade à outra e começar meu outro turno. Pô, eu tomava um suco, ou comia uma fatia de torta na padaria chique mais próxima. Às vezes até variava a padaria chique. No fim das contas, apesar de parecer idiota, eram momentos legais, dos quais eu me lembro até hoje.



---    

Espero que tenha gostado do texto. Comenta ai o que você achou, se já conhecia a escrita terapêutica ou já pratica/praticou isso. Eu gostaria muito de ouvir de você que leu até aqui.


Falou!

sábado, 9 de outubro de 2021

O Nuncapronto





 É cansativo!!

Você corre, você anda, pra frente, pros lados, pra trás, de costas. Porra, cê até se arrasta. O foco é claro, a determinação também. Ainda assim, o que resta a se fazer fora ter paciência para se manter diligente? Ter diligência para caminhar nem que seja um pouco? Caminhar para limpar a mente? Limpar a mente para ter paciência?


É frustrante!!

O sempremfrente, o semprumpouco, a semprepaciência nos deixam semprefocados e nuncadistantes do nosso propósitometa, e a mentafilosofia de que as coisas são semprepossíveis enquanto continuarmos nunquestáticos  nos reconfoca mas também nos recoenforca numa corda preparada por nós mesmos. E o sempremfrente, semprumpouco se tornam o nuncapronto, o nuncafeito, o semprelonge. E não me leve a mal aqui, é importante estarmos sempratentos a nós e aos outros, mas nessa de "como posso estar perdido se não tenho nenhum lugar pra ir" a angústrospecção se torna "como posso estar seguindo em frente se eu nunca vou pra lugar nenhum?"


Until you take action, you're standing still."

-Matt D'Avella.

domingo, 26 de setembro de 2021

Aceitação




 Tenho subido cada vez mais alto nesta montanha. O sucesso. O topo, o pico. Me tornei mestre do meu domínio e nada mais me fere. Não existe acaso que me abale, não existe golpe que me machuque. Aqui no topo da montanha, além do horizonte, não existe nada! Aqui no topo não existe resquício de história, nem natureza que não esteja morta. Não existe companhia. Tudo que existe aqui sou eu, e vivendo no momento plenamente, percebo que minhas únicas opções são ou me bastar ou desistir de tudo e descer. Voltar. Mas assim como Zaratustra se tornou incapaz de ressuscitar  Deus em seu coração, me é impossível descer da montanha.


Mas infelizmente, não me basto para ficar aqui, somente eu a montanha e o horizonte. Preciso descer, o que quero está lá embaixo, mas não posso mais ir lá buscar. Impossibilitado de voltar, impossibilitado de ficar. Neste momento me vem a própria e pura angústia. Dor de existir. O desespero de Johannes Climacus ao dançar com alguém que não fosse a morte. Johannes Climacus. Se a religião nada mais é do que um salto de fé, tiro a prova aqui mesmo e pulo na certeza de que encontrarei o que me ligará de novo com tudo e todos que deixei lá embaixo. Traindo o desejo de quem me amou mais que tudo no intuito de me salvar, percebo a perspectiva da linha do horizonte, antes tão baixa, caindo gradativamente, eu na altura do Sol, o vento cada vez mais forte, e toda a sensação de liberdade e excitação pela adrenalina... simplesmente não existe. Antes, somente eu a montanha e o horizonte. Agora, eu a queda e o vento. Já não correspondo como deveria as coisas que acontecem ao meu redor ou até mesmo comigo. E na corrida de subir a montanha, precisei pular do precipício para entender que eu sou a montanha agora. E agora só me resta viver neste momento, igual vivi lá em cima. Se eu tivesse pensado melhor, teria pulado de paraquedas para deixar uma mensagem lá em cima depois, não quero que outra pessoa precise mergulhar lá de cima pra entender que não existe escolha uma vez que você entende que você só pode se bastar para viver. Teria sido bom ter entendido isso antes, pois agora não tem mais jeito. Não que seja algo ruim ou bom, mas nada vai mudar. É só isso. Toda a nossa experiência é só isso, e na ignorância do pouco que vivi, sinto que já vi o que o mundo é e o que ele tem pra mim. Mesmo tudo mudando tão de repente aqui embaixo, aceito a condição e vivo cada segundo como se fossem uma vida em si até que o horizonte se torna sombra , minha chegada trovão, e finalmente do topo chego até o chão.


---

Tenho um pedido: estou coletando feedbacks sobre os meus textos. Então se você se sente confortável em dizer o que sentiu deste ou dos outros escritos, por favor, comente!

Muito obrigado.

domingo, 19 de setembro de 2021

O Que Nos Cabe


  


  As pessoas eventualmente falharão conosco. É inevitável. E essa falha vai doer na gente, talvez vá doer nelas também. Causará ansiedade, desânimo, até mesmo a perda do senso de propósito em dada relação.

Pra quê que sigo insistindo aqui?

    Talvez, seja porque você se importa. Seja numa relação no trabalho, com amigos ou aquele alguém especial (me sentindo muito engraçado agora), você percebe que pode tirar muito valor dessa relação, e que a pessoa ou pessoas que você busca construir laços também podem tirar algo do que você tem a oferecer. E, ao falharem com você, é como se elas tivessem atacando a sua boa vontade e disposição em se oferecer à elas, afinal, é um sentimento tão genuíno, sincero, proativo. Por que fariam algo assim?? Porra, é um sentimento tão bom.

Só que não acredito muito nisso, não. Pra mim, somos um pouco mais cruéis que isso. Egoístas. Pra mim, não somos tão altruístas assim.

    Fora nos momentos em que somos tomados pela droga mais poderosa do mundo -- o amor -- eu acho realmente difícil se importar genuinamente quando falhamos com alguém. Mesmo quando o Deus-Sociedade nos obriga com sua força onipresente a nos importarmos com os outros, é mais pela coerção social do que por nós mesmos que praticamos o se importar. O motivo tá simplesmente na nossa gana, nosso ímpeto eu buscar satisfazer as nossas necessidades, a vida é uma constante busca por esta reparação. E quando a nossa expectativa de ter a recompensa não se paga, bom, é normal nos sentirmos frustrados. Não é um valor adquirido, mas um sentimento genuíno. A onda que a gente sente quando o que necessitamos dá certo é dopamina pura. Puro ahegao. 

Mas, novamente, não acredito muito nisso também, não. Nos importamos somente com o que sentimos, sem qualquer consideração pelo outro. Mas o Egoísmo não é o único traficante que te dá o barato que cê precisa.

    Sinceramente não sei te dizer em que medida isso é uma programação do Deus-Sociedade. Ou mesmo se é uma necessidade que ficou engendrada em nossos genes desde a época do homem das cavernas, como a ciência norte americana adora postular. Mas a real é que a gente só curte ser útil. E de alguma forma, acertar com os outros satisfaz nossa própria busca por prazer. É por isso que é legal ajudar alguém. Ver que alguém se abriu com você, ou confia na sua presença. Que alguém te admira por aquilo que te define como único com relação ao resto do mundo que vocês acessam. Quando tiramos nosso próprio valor do ter valor para quem nos importamos, satisfazemos não só o altruísmo inerente ao que aprendemos ser bom e recompensador, mas também ao egoísmo sádico que nos faz virar os olhinhos de prazer.  Em contrapartida, você deve entender o que é o amargor na boca quando falhamos com as pessoas para as quais queremos ser úteis, das quais precisamos contorcer para ficarmos bem. Não tem outro nome, não tem conceito,

É culpa.

Nós nunca somente falhamos em fazer algo. Falhamos também com as pessoas que contavam conosco. E conosco, uma vez que ao contrário dos elogios e glórias advindos do nossa solidariedade, recebemos pesar, chateação, resignação, traindo nosso prospecto de satisfação egocêntrica por não termos sido suficientes. Naturalmente, como a boa teoria psicológica ensina, à nós cabe, primeiramente, aceitar. Ficarmos confortáveis com a ideia de que nem sempre faremos o melhor. Às vezes, você vai querer machucar alguém, e vão querer te machucar também. Às vezes, mesmo você querendo se curtir e curtir o momento, você vai ferir alguém. E será ferido também, muitas vezes pelos motivos mais idiotas. O que não é necessariamente sua culpa, mas também, se você não se resolver, cara,

Quem é que vai?

O que nos cabe é justamente reconhecer que nós como indivíduos falharemos perante o Deus-Sociedade e seu rebanho, e também entender que não importa muito quem é que esquentou essa batata, se a música acabou e ela caiu na sua mão, ela é sua pra cuidar. E talvez seja interessante pensar em formas de mitigar a dor da queimadura. Tanto pra você, quanto pros outros.


---

Tenho um pedido: estou coletando feedbacks sobre os meus textos. Então se você se sente confortável em dizer o que sentiu deste ou dos outros escritos, por favor, comente!

Muito obrigado.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Inferno.





     

        Esse é o tipo de coisa que me leva ao extremo

        Que me dá vontade de correr de frente ao carro inevitável que vem de encontro ao meu ímpeto

        Tamanha a raiva que me faz sentir

        Tamanho é o inferno que me faz sofrer

        Mas, Divina é a memória em nossos corações

        O acaso da morte, o milagre da fé

        A garra à vida, a constante angústia

        E só me é preciso um instante


        Eu daria minha vida por você

        Mas não posso abrir mão dela tão facilmente assim

        Não pela sua ira

        Não pelos seus erros

        O que esse inferno faria com você?

        O que meu sacrifício diria de mim?

        De você não sobraria nada

        Eu seria somente um desertor

        Daquilo que me é mais precioso

        Por isso nos meus olhos se encontram a serenidade de quem daria a vida por você

        Mas simplesmente não vai.


---

Tenho um pedido: estou coletando feedbacks sobre os meus textos. Então se você se sente confortável em dizer o que sentiu deste ou dos outros escritos, por favor, comente!

Muito obrigado.

domingo, 12 de setembro de 2021

Agora Eu Sei.




Agora convivendo com as duas maiores pandemias da atualidade, acordei para uma nova percepção. Às vezes achar que sabe pode parecer suficiente, mas nada é mais valioso do que o saber. E na minha mente eu achava que sabia várias coisas. Eu achava que sabia o que o outro estava pensando, fazendo, achando de mim e dos outros. Achava que sabia lidar com a tragédia, caso ela ocorresse. E que sabia como me sinto. E numa viagem sem fim pelos universos paralelos, todos resultados dos meus múltiplos "e se...", me vi perdido dentro da minha própria cabeça. O mais preocupante:

Dentro da minha própria ignorância.

Acho graça do tolo que diz "ignorância é uma benção". E gostaria de falar dele mesmo, o mais famoso de todos, para ilustrar meu ponto: O El cananeu, e o Yavéh, dos semitas -- Deus. Particularmente, apesar de interessado, não sou stan Dele. Mas quem é, por exemplo, não é agraciado por ele por não saber de que ele existe, e que age na vida de todos que creem ou não. É justamente por saberem que são abençoados. Como eles sabem? Ah minha amiga, meu amigo,

Vai saber!

O que quis dizer com isso é que é justamente sabendo que podemos aceitar as coisas, ficando então em paz com sua constatação na existência. Foi sabendo que parti feliz de seus braços. E foi ponderando que quis voltar. Foi perdido em condicionais que nunca mais pude conversar com você. Mas foi vivendo o que aconteceria que pudemos dizer um "te conto depois sim" com gostinho de "até nunca mais". Foi vivendo na ignorância que me prendi num mundo onde só estava ao meu alcance aquilo que podia desenhar, foi supondo que me prendi. Mas agora, o mundo certamente está cheio de esperança. Pois agora, 

Agora eu sei. 

---

Tenho um pedido: estou coletando feedbacks sobre os meus textos. Então se você se sente confortável em dizer o que sentiu deste ou dos outros escritos, por favor, comente!

Muito obrigado.

domingo, 5 de setembro de 2021

O Vinte e Oito


 


Não sou muito de acreditar no Céu. Mas não tem um inferno do qual eu duvide.


    Escrevi essa frase ali há um mês atrás, mais ou menos, pois foi o dia em que começou o meu inferno astral. Não acredito em signos. Não acho que sou regido por estrelas mortas. Mas eu nunca vou ter a coragem de duvidar do inferno. E posso até peitar o demônio, mas nunca vou duvidar de sua maldade. Se você é brasileiro, sabe bem aonde nos leva duvidar da perversão alheia. Não acreditar no melhor, no bem me garantiu ficar mais um ano aqui. E por mais que este seja um caminho interessante para se abordar, vim falar de outra coisa: Do inferno em si.

    Tem sido um mês horrível, um pouco mais de um mês de azar na verdade. E passei por todos os sofrimentos que você pode imaginar, isso sem contar as doenças e acidentes que tive ao longo desses 40 dias. Dormir foi um inferno, trabalhar foi um inferno, cair foi um inferno, levantar também. Ser eu foi um inferno, pois eu não acertei uma o mês todo. Fui insuficiente, infantil, egoísta, tomei por certo o que não devia ter tomado, regredi em comportamentos que já haviam sigo expurgados-- escrever às 3 da manhã apesar de super nostálgico e jovem, é uma das últimas coisas que eu queria pra minha vida agora -- e, pra quem prometeu destruir tudo que não podia ser curado,

BICHO!!!

eu to só a Miley Cyrus. E ontem especialmente, puta merda, tudo que podia dar errado, deu. 


    Ainda assim, mesmo começando meus 28 com os 2 pês esquerdos, acho que nunca me senti tão bem. Ao aceitar o que aconteceu, o que fiz, sem pesar pra cima ou pra baixo as coisas, só me resta acolher e seguir em frente. Ao olhar pra trás, percebo que boa parte do que plantei nos últimos anos foi queimado pelo fogo das minhas próprias incertezas, raivas, tristezas, desesperos. Mas, felizmente, nem toda planta queimou. Muitas dão frutos até hoje. E até mesmo consigo perceber brotinhos surgindo do chão ferido, trazendo vida nova pra uma plantação que já viu dias melhores. Vai ver é a sina da castanheira nascida no cerrado, 

precisa de pegar fogo pra florescer.