sábado, 26 de setembro de 2015

A Kitnet




A kitnet não é um imóvel, mas sim um lar. É onde eu ou nós moramos?? Não, mas bem que podia ser. É onde eu a conheci. É onde eu me apaixonei. É onde ela se encantou e eu -- de alguma forma (??) -- a conquistei. É onde eu compartilho meu dia, procuro encurtar distâncias e abasteço meu coração de alegria. Onde mesmo sendo imperfeito e repleto de derrota e vacilo, sou aceito. É onde "não vejo" filmes de terror e levo broncas, sou cuidado. É onde eu tento compreender e auxiliar, sempre que permitido. É onde busco paz e sorrisos toscos. Onde aprendi que por mais que tudo seja uma merda, nem sempre as coisas tem que ser ruins -- aprendi a ver que a vida pode ser melhor. É onde me esforço pra ser melhor, geralmente falhando miseravelmente antes de melhorar um pouco. A kitnet é uma escolha, uma promessa. É onde me apaixono todo dia. Onde moro com o futuro amor da minha vida.

domingo, 30 de agosto de 2015

Messed up



I run nightmare scenarios all the time
It is like i can't give my mind some proper time to rest
would probably be the best
is not like i'm sitting complaining didn't even trying
my plan is work and study until i die to get the cash
you're not like any gash

but sometimes i lost my shit while understanding that you got your things
and sometimes i seem so weird and sure you got your point cuz is me losing grip
and sometimes i feel so sad that i start writing songs in order to exorcise it
and sometimes i feel so mad and insecure that all i wanna do is cry

sábado, 29 de agosto de 2015

O que eu aprendi com The Smiths



The Smiths é uma banda importante. Afinal, é o cobertor em que deprimidos e depressivos se cobrem, encolhem e usam para se proteger de viver. The Smiths é aquele abraço que te reconforta mas não faz a sua tristeza embora, é aquele homem charmoso que você quer para você. É o grito que você queria dar, não deu e reproduz no seu player favorito ao voltar pra casa depois de um dia exaustivo, terrível, em que você não fez o que queria fazer porque viver para você é complexo, difícil demais e frustrante demais só olhar outras pessoas não tendo problemas com isso. E só você tem problemas com isso. Pelo menos é só isso que você vê.

The Smiths é alguém que há mais de 20 anos atrás te compreendeu e te violou ao expôr a sua vida antes mesmo de você ter nascido. É aquele inglês que aprendeu com seu conterrâneo e herói como transformar tragédia em arte e o cotidiano em espetáculo.

E o que eu aprendi com isso tudo?? Aprendi que escutar The Smiths em momentos de fragilidade é tomar aquele gole que você sabe que vai te fazer mal, é abraçar a escuridão, olhar pro abismo esperando que ele olhe de volta.

Referências óbvias e um tanto quanto exaustivas porque claramente o texto perdeu a vibe que tinha ali em cima.

É reconhecer o quão mal você está e que dá pra melhorar, mas por agora, você prefere estar na pior. Só por hoje. É reconhecer que a piada dói e que por mais que você queira rir dela, ainda não consegue.

É fodido.

E se você leu até aqui, desculpa.

sábado, 18 de julho de 2015

O quão tarde é agora??



You shut your mouth
How can you say
I go about things the wrong way?
I am human and I need to be loved
Just like everybody else does
 
Você está perdido na vida há algum tempo, pelo o que me parece. Isso está correto?? Faz sentido, certo?? Percebo que você tem se preocupado muito com ser aceito pelas pessoas e até mesmo aceitar pessoas na sua vida. Ainda, que tens te questionado muita psicanálise, como se soubesse do que isso se trata. Você é arrogante, acredita saber como funciona o olhar do diretor nesse filme doido chamado vida. Vida social. Desdenha disso. "Eu não preciso disso", você falou, fala e certamente falará de novo, quando negar precisar de algo novamente.

Mas aqui a gente fala de amor. A gente fala de romance. E principalmente, do quão fracassado você é nisso.

Você teve uma vida muito ao avesso. Muito esperto para o mundo ao seu redor, desbravou de forma alternativa o que tinham a lhe oferecer. Sua vida era muito Californication e Cine Privê quando era pra ser Flipped. Sua vida era muito Californication e Cine Privê quando era pra ser Nick and Norah's Infinite Playlist. Não por não ter-lhe faltado opções, percebi ao longo dos seus relatos que você teve muitas opções. Mas você é diferente, certo?? Mas você não queria ser, está correto afirmar isso?? Ou pelo menos gostaria de fingir com mais desenvoltura que está aproveitando todo o roleplay da vida social ocidental. É mentira??

There's a club, if you'd like to go
You could meet somebody who really loves you
So you go, and you stand on your own
And you leave on your own
And you go home, and you cry
And you want to die

E a pergunta que fica: pra quem passou 20 anos vivendo como Hank Moody ainda existe um amor de 14 anos?? Dizem que só existe um na vida. Como você não teve, de fato, nenhum, talvez haja uma chance. Pelo menos é o que eu espero pra você.

When you say it's gonna happen "now"
Well, when exactly do you mean?
See, I've already waited too long
And all my hope is gone


Todos os trechos em inglês são da música How Soon is Now? da banda The Smiths.

domingo, 19 de abril de 2015

Quantos caras por dia dizem que te amam??




   Era noite de sexta-feira e por algum motivo saí mais cedo do serviço. Ao sair do prédio do lugar onde trabalho, encontrei Aline. Ela é linda. Cabelos coloridos -- ainda que neste dia eles estivessem completamente castanhos -- e um rosto de francesa, ombros tímidos e um estilo otaku 2006 bem light. Me cumprimentou e perguntou de onde eu vinha. Eu não sei de onde ela veio. E depois de uma conversa trivial perguntei se ela me acompanharia numa caminhada até a parada de ônibus. Ela fez referência a um episódio do Friends e eu entendi. Embora agora eu tenha percebido que não exista nenhum episódio de Friends baseado na situação que aconteceu naquele momento.
   Ao descer o trecho que passava por trás do Olimpo e no meio do bosque, conversávamos abobrinhas e irrelevâncias nerds tão simplórias e descartáveis que acabei esquecendo. Mas lembro que rimos muito delas. Chegando perto da faixa de pedestre, eu senti felicidade e gratidão traduzidas em contato físico -- Ela me beijou no braço. Eu nem cheguei a ver isso acontecer, nem previ. Imagino que ela tenha olhado para mim enquanto abria o sorriso grande e apaixonante que (por incrível que pareça) só ela tem e pensou um "por que não?" antes de me beijar. Depois do êxtase, a olhei e perguntei um estarrecido e desajeitado "você me beijou? No braço??" e ela concordou sorrindo. E eu sorri também. Um sorriso muito bonito e sincero que já me foi dito que possuo, por sinal. Num ato desesperado mas cheio de confiança e paz decidi pegar na mão de Aline ao chegar na parada. Ela se envergonhou feito garota principal de mangá shonen quando o garoto principal toma iniciativa. Eu pedi desculpas, mas ela negou, pegando na minha mão e dizendo que eu só tinha feito isso de forma errada. Percebi que estávamos do lado errado do universo e que eu deveria era estar do outro lado da rua para pegar meu ônibus. Atravessamos a faixa de pedestres de mãos dadas.
   Coisas nerds foram ditas, sorrisos dados e a percepção de que meu ônibus iria atrasar era a cada instante mais condizente com a realidade. Lembro que em um momento nos deitamos, ela usando meu ombro de travesseiro, de costas para a parada e para a pista. Pontuei que daquele jeito não poderíamos ver meu ônibus chegando. Ninguém realmente ligou porque ela teria que esperar a irmã até mais tarde e eu estava tendo o momento mais feliz do triênio.
   Enquanto estávamos deitados alguém me chamou de safado e jogou um casaco em mim. Era meu grande amigo Porcão. Corri atrás dele com o casaco que foi jogado em mim, desci uma porrada nele e após abraços e sorriso fraternos, voltei para Aline.
   Quanto mais o tempo vai passando mais as memórias vão se perdendo, mais vão se esvaindo para que lembranças mais relevantes possam ser armazenadas. O ônibus já estava demorando demais e fomos junto aos emos e skatistas buscar informações. Aline fez um baita sucesso com sua bucha que parecia um cavanhaque robusto. Após conversamos sobre sua vontade de tomar LSD e meu medo de tomar LSD devido minha facilidade a desenvolver bad trips, nos afastamos dos emos e skatistas para ficarmos só nós, no meio do campo aberto, ao lado de um prédio histórico e uma pista interiorana no meio da capital do Brasil.
   Acordo na cama, atordoado e começo a perceber que tudo isso, até o beijo no braço, foi um sonho. Até o beijo no braço. Nada aconteceu. Até o beijo no braço. Vou chegar na quinta-feira para encontrar Aline e não trocaremos olhares que querem dizer "eu ainda lembro do que aconteceu entre a gente na sexta-feira passada". Estarei num canto sendo irônico e reflexivo enquanto ela estará numa roda de conversa ao lado do cara que quer muito ficar com ela. Você se pergunta porquê eu não chego lá também e dou uma de "cara que quer muito ficar com ela" e eu respondo: ela demostra estar muito afim de ficar com ele. Mais do que demonstra estar afim de ficar comigo.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Não saio de casa




Estou no lugar mais confortável pra mim, mas infelizmente é o lugar mais exposto da casa.

   Sair de casa é mais do que passar do portão do lar, da porta do quarto ou até mesmo levantar da cama, não desmerecendo a força de quem faz essas coisas, independente do nível de consciência da ação. Sair de casa é mais ou menos como construir uma casa própria dentro de si, uma mistura de três porquinhos e deja vú em que a cada vez que seu lar é destruído e você morre, nasce de novo como se nada tivesse acontecido, mas com todas as lembranças do fracasso anterior, para que na próxima vez que você construir uma casa, não cometa o erro de criar um lar suscetível ao tombo por sopro de Lobo Mau.
   Sair de casa é sabedoria. Quem não sai de casa perde conhecimento, saberes e fica estagnado num mesmo ponto temporal como se o tempo não estivesse seguindo seu rumo. Mas a gente sabe que o tempo tá é pouco se fodendo, então quem não sai de casa perde conhecimento e ainda fica preso numa sensação falsa de pause, como se o cotidiano fosse vídeo game.
  Mas, ainda que tudo isso que foi dito seja muito ruim para uma pessoa devido a conjuntura mundial, o pior para quem não sai de casa é a incapacidade de entender e aprender direito com as coisas que acontecem ao sair de casa. Pois quem não sai de casa está iludidamente confortável com si mesmo e tem a fé na lei geral da física de que não precisa sair de casa e de que não vai sair de casa. Tadinho do bichinho, ele vai sair de casa e vai se foder. Quem não sai de casa e, por ventura, acaba saindo de casa é inevitavelmente acertado, agredido, violado por tudo e todos: propagandas, climas, geografia, culturas, palavras e -- a pior de todas --  pessoas. Assutado, quem não sai de casa constrói sua casa em si longe de vizinhos, se isola para sobreviver em segurança e acaba morrendo vítima da própria e limitada consciência. Isso é tristeza traduzida em dia-dia.

FALOU!