terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Como Fantasmas Operam E Também Como Matá-los.


        


        Sempre fui atormentado pelo medo das coisas, pelos fantasmas das coisas que morreram e/ou me mataram. Coisas que foram me limitando e destruindo minha capacidade de fazer o que sempre fiz, de perceber as coisas como elas são e não somente pela lente que me foi dada para ver o mundo. E ao fugir dos fantasmas, acabei precisando lidar com a realidade de que, assim como todo bom filme de terror, as maldições existem para nos perseguir não importa o caminho que tomarmos ou o quão longe formos. Fantasmas têm um jeito muito peculiar de nos alcançar. Eles esperam, às vezes por tanto tempo que você realmente deixa de achar que eles nunca irão aparecer novamente porque até esse peso eles esperam que você esqueça. Eles então esperam o suficiente e esperam até estar tudo bem. E quando tudo está bem: Pouf! Não está mais.

        Foi assim comigo hoje. Venho hoje contar o relato do meu último embate com fantasmas. Eu tenho muitos fantasmas, e estes apesar de não serem os mais poderosos dentre todos os meus fantasmas, certamente comungam juntos pelos corredores e palácios macabros das ruínas onde pupilos vão para morrer. De novo, o tempo passou tanto que eu sinceramente não lembrava da existência destes fantasmas. Foram mais de 100 anos vivendo a vida sem que eles surgissem como vaga lembrança ou lembrete. Muita coisa mudou neste tempo. Eu fui para um outro mundo, virei uma nova pessoa, construí uma nova vida. Uma vida que merecia celebração. E foi justamente nesta celebração que os fantasmas festejaram também. Não sei quem de nós percebeu a existência do outro ali, mas eventualmente ambos eu e eles soubemos que estávamos juntos naquele espaço. As pessoas comigo não entenderam quando eu disse, a princípio, que "os fantasmas estão aqui" e a importância disso. Mas expliquei. E ao explicar, acabei percebendo o quão idiota era me preocupar com estes fantasmas em questão. Fantasmas nada mais são do que a invocação da morte, do remorso e do medo. E eu me sentia assim quando eles se mostraram pra mim pela primeira vez, 100 anos atrás. Mas em 100 anos, enquanto não os via esperando à espreita, também não vi que de pouquinho em pouquinho (muito pouco mesmo), eu passei a viver, e a ter coragem. E alegria. As coisas têm sido tão difíceis ultimamente que realmente é esquisito pensar que é com coragem e alegria que tenho lidado com elas. Mas é exatamente assim. Não foi intencional também. Mas querer viver as coisas foi. E a vida, ao ser encarada em sua plenitude, foi me mostrando e modelando coragem e alegria em mim. Ainda sofro com as coisas. Muitas vezes sofro muito. Mas agora que estou equipado com coragem e alegria, consigo encarar meus fantasmas de frente, assim como reconhecê-los ali do lado e deixar estar. Fantasmas não conseguem exercer seu poder em quem não se deixa influenciar por suas maldições. E hoje, ao ter de lidar com o fato de que meus fantasmas estavam ali, percebi que não me deixo mais ser domado por eles. Não procurei por isto. Mas também não acho que simplesmente aconteceu. Foi um processo. Um processo de encarar as coisas, gradativamente, e sofrer as coisas sem fugir delas, que me trouxe até aqui. Eu provavelmente estou enganado sobre tudo isso. Mas foi assim que aprendi como matá-los.

FALOU!