domingo, 15 de dezembro de 2013

De Jesus Cristo à Luta.



Direto eu vejo altas músicas, textos, quadrinhos, filmes em que, desmagificadas, pessoas deixam de ver na religião - em especial, a cristã - uma fonte de consciência de humanidade, amor ou solidariedade. Mas é justo dizer que elas estão erradas? Ora, é bem possível conectar a Igreja Cristã às maiores atrocidades da história do ser humano: cruzadas, perseguições aos racionalistas da era medieval, colonialismo, nazismo e até mesmo o capitalismo e os Estados Unidos da América (eu considero esse último uma atrocidade tremendona.) têm fortes laços com a religião cristã. O cristianismo teve o dedo metido nos maiores atos de terrorismo da história, e é do direito de cada um achar que a fé nisso vale a pena ou não.

Os cristãos, em suma, também são altamente conservadores com relação à temas ligados à sexualidade. Sexo só deve ser praticado com um parceiro conjugal e com a única função de encher a Terra com criancinhas. Homossexualidade, sodomia, amor livre são coisas profanas para qualquer um que pregue em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. A Bíblia, também, justifica a colonização dos povos e sua cultura, quanto também justifica a escravização e servidão. Por isto, os teóricos do socialismo, comunismo, anarquismo, ou seja, da esquerda política, costumam ser prontamente contrários à religião. Ao cristianismo, já que, sendo a religião hegemônica, este é quase sempre referência empírica quando estes teóricos abordam o tema.

Este texto propõe uma outra alternativa ao pensar o cristianismo. Querendo ou não, existem semelhanças práticas entre as correntes revolucionárias de esquerda e o cristianismo. Também não é possível uma correlação lá tão grande, uma vez que estas correntes políticas surgiram em um contexto um tanto diferente do contexto em que se deu o cristianismo, portanto, abordagens dos temas mais analíticos socialmente, como Estado, economia, política não poderão ser feitas sem ponderações que... eu realmente não tô afim de fazer agora. Me atenho aos temas citados acima, que são do espírto. Portanto, falarei brevemente das noções compartilhadas que as teorias revolucionárias de esquerda e o cristianismo possuem ao falar de humanidade, amor e solidariedade. Ao falar de cristianismo, me refiro aos Mandamentos, que são as regras da prática cristã, especialmente aos mandamentos referentes à relação dos indivíduos entre si¹. Não quero abordar a relação do indivíduo com o divino, pois este é um mérito que não cabe a mim abordar.

Estas teorias revolucionárias vêem a sociedade como um conjunto de indivíduos que podem sim conviver economicamente, politicamente, respeitosamente numa coletividade que não tenha a exploração e a opressão como bases fundadoras das relações sociais. Uma sociedade onde as pessoas tenham consciência social para não praticarem má fé - tal como os teóricos franceses da administração pública pensam este termo - uns com os outros. Um lugar onde todos sejam, socialmente, iguais. O cristianismo pensa a coletividade da mesma forma, ou seja, um conjunto de indivíduos engajados num bem maior que seja de bom grado para todos. Uma sociedade sem quaisquer tipos de segregação, onde as ações sejam em prol da própria felicidade, mas também em prol da felicidade do próximo.

Com relação ao amor, o que penso ser o tema que mais causa divergência entre estes sujeitos de concepção de mundo, compreendo que a Igreja, como instituição da representação espacial do cristianismo, não ajuda nem um fucking pouco. As diversas proibições aos corpos e às vontades sexuais já geraram os mais diversos tipos de confrontos, em todas as esferas sociais possíveis, onde de um lado está a Igreja gritando repressão aos LGBTTs, apoiadores do aborto, usuários de anticoncepcionais e sei lá mais o que. Isto, por mais que os cristãos não percebam com clareza, é um pecado. Um pecado que fere no cerne de toda orientação dada pelo próprio Deus à Moisés lá no topo da montanha. Esta parte do "ame o próximo como você ama a si mesmo" está mais explícita no quinto mandamento, "não matarás". Esse "não matarás" não é somente uma versão ano x a.C. do não mete bala no fulado ou nada de facada no bucho do colega, mas sim uma espécie de não desrespeite, não prejudique o próximo, ou mesmo - para usar o verbo - um não mate as vontades do próximo, não mate os desejos, as liberdades do próximo. Mais uma vez, similitudes entre as teorias revolucionárias e a religião cristã são evidenciadas.

Por último, a solidariedade. Esta, que é a base da relação de produção de todas as teorias revolucionárias, está no cristianismo também. Mas foi traduzida historicamente de uma maneira em que trai todo o ideal da prática cristã: caridade. Essa palavra não condiz em nada com os preceitos da cristandade, pois ela supõe desigualdade social entre pessoas e, para piorar, a legitima. Tal como o anarquismo, comunismo, socialismo, o cristianismo também quer que as pessoas desfrutem de uma vida confortável, porém igual para todos os vivos, e a ideia de ceder uma parte de suas posses para que o outro viva com menos miséria do que vivia antes, por um curto período de tempo, é simplesmente ir contra a igualdade social, contra a confortabilidade universal dos indivíduos. Mas, mais uma vez, assim como em alguns movimentos de esquerda, as coisas deram errado na hora de por em prática a doutrina cristã. É preciso ressaltar que a Igreja, e a Bíblia também, são ferramentas muito fortes de controle social e podemos ver que historicamente foram configuradas para atender à ações prejudiciais para os humanos, nem sempre aqueles crentes no Deus, no Jesus. E é aqui que o cristão deve agir, de maneira revolucionária, para colocar esta coletividade no caminho certo, de amor à Deus e também ao próximo. Desvinculada da ganância e poder historicamente adquiridos, e agir tal como a escritura manda.

Ó, eu escrevi isso aqui para mostra que é possível sim ser combativo, revolucionário, sem largar do caminho de Deus. Mas, claro, assim como ser um universitário que gosta de frequentar cinemas, esta merda é difícil de se fazer acontecer, pois é preciso muita vontade de fazer a linha torta - esta escrita pela própria mão do homem - se retificar. O que dá mais razão para o cristão ter uma posição de crítica dentro da sociedade e dentro da Igreja. Nem sempre é preciso dizer adeus a Deus para que se faça a revolução. Para que se acredite que as coisas também podem vir da terra, e não somente do céu.

FALOU! o/


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¹Os mandamentos referentes à comunhão são: honrar teu pai e tua mãe, não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho contra teu próximo, não cobiçarás, encontrados nos Dez Mandamentos dados à Moisés; e os mandamento encontrado em Mateus 22:39, "ame os outros como você ama a você mesmo", que como Jesus disse, de acordo com o evangelho, é, junto com "amar a Deus sobre todas as outras coisas" (MATEUS 22:37), base dos Dez Mandamentos.

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