sexta-feira, 3 de abril de 2015
Não saio de casa
Estou no lugar mais confortável pra mim, mas infelizmente é o lugar mais exposto da casa.
Sair de casa é mais do que passar do portão do lar, da porta do quarto ou até mesmo levantar da cama, não desmerecendo a força de quem faz essas coisas, independente do nível de consciência da ação. Sair de casa é mais ou menos como construir uma casa própria dentro de si, uma mistura de três porquinhos e deja vú em que a cada vez que seu lar é destruído e você morre, nasce de novo como se nada tivesse acontecido, mas com todas as lembranças do fracasso anterior, para que na próxima vez que você construir uma casa, não cometa o erro de criar um lar suscetível ao tombo por sopro de Lobo Mau.
Sair de casa é sabedoria. Quem não sai de casa perde conhecimento, saberes e fica estagnado num mesmo ponto temporal como se o tempo não estivesse seguindo seu rumo. Mas a gente sabe que o tempo tá é pouco se fodendo, então quem não sai de casa perde conhecimento e ainda fica preso numa sensação falsa de pause, como se o cotidiano fosse vídeo game.
Mas, ainda que tudo isso que foi dito seja muito ruim para uma pessoa devido a conjuntura mundial, o pior para quem não sai de casa é a incapacidade de entender e aprender direito com as coisas que acontecem ao sair de casa. Pois quem não sai de casa está iludidamente confortável com si mesmo e tem a fé na lei geral da física de que não precisa sair de casa e de que não vai sair de casa. Tadinho do bichinho, ele vai sair de casa e vai se foder. Quem não sai de casa e, por ventura, acaba saindo de casa é inevitavelmente acertado, agredido, violado por tudo e todos: propagandas, climas, geografia, culturas, palavras e -- a pior de todas -- pessoas. Assutado, quem não sai de casa constrói sua casa em si longe de vizinhos, se isola para sobreviver em segurança e acaba morrendo vítima da própria e limitada consciência. Isso é tristeza traduzida em dia-dia.
FALOU!
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